______________________Perversão - A Indepedência da Pulsão
Elza Rocha Pinto
É
interessante observar que apesar de conseguir revolucionar a moral sexual do
século XX, Freud não pôde, entretanto, se descartar inteiramente do moralismo
da psiquiatria da época. E acaba
permanecendo preso a alguns preconceitos.
Como afirmam Laplanche-Pontalis (l970):
É difícil conceber
a noção de perversão sem ser em referência a uma norma. [1]
Assim Freud (l905) acaba
realmente por definir a relação sexual normal ao nível da genitalidade,
mantendo a hegemonia da preservação da
espécie. O fim sexual normal é definido em termos da Natureza. Mas, independente
disto, o importante é que em
paralelo Freud (l905) inicia o resgate das perversões:
Porém ainda o ato
sexual mais normal integra visivelmente aqueles elementos cujo desenvolvimento
conduz às aberrações que descrevemos como perversões.[2]
Portanto,
para Freud (l905) as perversões começam a fazer parte da vida sexual normal.
Eis como ele aborda este fenômeno:
Determinadas
relações intermediárias com o objeto sexual são admitidas como fins sexuais preliminares. Estas
práticas preliminares, como a contemplação ou o toque do objeto sexual, podem
se esgotar em si mesmas, ligando-se a sensações de prazer. Ou podem, por outro
lado, contribuir para elevar a excitação até a realização fim sexual genital.
O prazer preliminar
é o mesmo que já provocaram, embora em menor escala, as pulsões sexuais
infantis (...) Muitas perversões não são, com efeito, senão tal detenção nos
atos preparatórios do processo sexual. [3]
E,
esclarecendo melhor sua posição, ele acaba propondo um sistema de
classificação:
As perversões são
alternativamente: a) transgressões anatômicas dos domínios corporais destinados
à união sexual; ou b) detenções naquelas relações intermediárias com o objeto
sexual que normalmente devem ser rapidamente recorridas no caminho para o fim
sexual definitivo. [4]
Entre
estas relações intermediárias com o objeto sexual podem ser apontados os
fenômenos do fetichismo, do voyeurismo, do exibicionismo, e do sadismo e do
masoquismo. Em grande parte das perversões não vai ocorrer a integração destes
impulsos pré-genitais numa sexualidade madura, onde a energia excedente se
expresse através do amor e da procriação, transcendendo os limites da
auto-sobrevivência do indivíduo. Como resume Alexander (1965):
As perversões são o
resultado de uma falha na integração dos componentes pré-genitais da
sexualidade numa forma madura. [5]
É a
independência da pulsão que caracteriza a perversão. Se um impulso agressivo se
manifesta de forma socialmente ajustada, ajudando o indivíduo a superar
obstáculos ou a defender-se de um ataque, não existe aí nenhuma conotação
perversa. No entanto já se pode falar em sadismo
quando a hostilidade e agressão têm por objetivo a imposição do sofrimento e da
dor como um fim em si. Na
criança existe um acúmulo de impulsos agressivos e hostis. Sua fraqueza e sua
dependência dos adultos acaba impedindo a liberação destes impulsos
hostis. Mas o predomínio e a fixação dos
componentes agressivos do complexo de Édipo, algumas vezes se aliam à
rivalidade e competição com os irmãos, originando o sadismo. E então
sentimentos e impulsos agressivos podem se libertar, expressando-se através de
crueldade para com objetos mais fracos. A criança pode ser muito cruel com os
irmãos mais novos, ou com pequenos animais. A princípio, as agressões a um dos
pais, ou aos irmãos, tem por objetivo conseguir a exclusividade do amor por
parte do objeto de desejo. Mas aos poucos a agressão ganha independência e se
estabelece como um fim em si mesmo. O sadismo pode se manifestar através de
comportamentos de ataque, destruição, atitude de dominação e conquista,
Quanto ao
masoquismo, ele se afirma quando a necessidade de punição e sofrimento se torna
erotizada. Existem atos de renúncia, e de auto-limitação, subordinados ao
princípio da realidade. Ou seja, uma pessoa pode se submeter voluntariamente a
uma privação, e mesmo à dor, se isto for necessário para alcançar um objetivo
desejado. No entanto, o masoquismo passa a existir quando a dor e o sofrimento
se tornam um fim em si mesmo. Então a pessoa tem prazer em punir-se, e busca o
sofrimento pelo prazer do próprio sofrimento, e não como um meio necessário
para atingir um determinado objetivo. O comportamento passivo da submissão
também é uma forma de masoquismo. Dentro da perspectiva freudiana, a ansiedade
e a culpa provocadas pela concorrência da situação edipiana, e pela rivalidade
com os irmãos podem levar ao masoquismo. A princípio, a auto-punição alivia a
culpa pela hostilidade sentida para com o pai ou para com a mãe. Porém
gradualmente a punição vai se tornando erotizada.
As
perversões são produzidas como desvios de uma adequada elaboração do complexo
de Édipo, desvio que privilegia uma determinada pulsão pré-genital. O que Freud
está dizendo, então, é que a sexualidade infantil é constituída por componentes
perverso-polimórficos, e que em seu desenvolvimento, a sexualidade pode sofrer
perturbações. Como na inversão homossexual da escolha de objeto, foco da
análise que Freud vem realizando em Os Três Ensaios sobre uma Teoria Sexual. A partir do homossexualismo, o qual ele ainda
designa - de acordo com as concepções predominantes da época -, como uma das aberrações da sexualidade, Freud vai
demonstrar que não existe uma dependência entre o sexo do indivíduo e sua
eleição de objeto. Originalmente a libido não tem preferências: ela investe
indiferentemente em objetos sexuais femininos ou masculinos.[6]
Finalmente, numa nota acrescentada em l9l0, Freud acaba resgatando a conotação
negativa emprestada ao homossexualismo, ao afirmar a questão da bissexualidade:
...todo indivíduo é
capaz de uma eleição homossexual de
objeto e a levou, efetivamente, a cabo em seu inconsciente. Pode-se inclusive
afirmar que a ligação libidinosa a pessoas do mesmo sexo desempenha na vida
psíquica normal um papel tão importante como a que recai sobre pessoas de sexo
contrário, apresentando ainda uma maior significação no que se refere à
gênese de estados patológicos. [7]
Aprofundando
sua análise, Freud tem a audácia de afirmar que o interesse sexual exclusivo do
homem pela mulher constitui um problema,
e não algo natural. Com isto ele tenta
derrubar, definitivamente, o preconceito contra o homossexualismo.
Freud
lembra que a eleição de uma atitude sexual definitiva só vai ocorrer depois da
puberdade, e será resultado de uma série de fatores, constitucionais ou
acidentais. Ou seja, uma multiplicidade de fatores determinantes acaba
produzindo uma diversidade de comportamentos sexuais, herança de nossa criança
“perversa-polimorfa”. A importante
questão que Freud está reformulando, aqui, prende-se à categoria do instinto com seu determinismo de objeto:
Resulta que nós
representamos como excessivamente íntima a conexão do instinto sexual com o
objeto sexual. (...) entre o instinto sexual e o objeto sexual existe uma
solda, cuja percepção pode nos escapar na vida sexual normal, na qual o
instinto parece trazer consigo seu objeto. Surge, assim, a necessidade de
dissociar, até certo ponto em nossas reflexões, o instinto e o objeto.
Provavelmente, a pulsão sexual é, em princípio, independente de seu objeto, e
não deve sua origem às excitações emanadas dos atrativos do mesmo. [8]
Com esta
reformulação Freud abre as portas da normalidade para as perversões. A pulsão é
livre, é independente do objeto, tem uma característica perversa polimorfa. Os desejos podem, agora, tomar qualquer
direção. Não mais se apresentam com a obrigatoriedade de seguir um caminho
pré-determinado pela natureza, ou
pela constituição genética. A solda
entre a pulsão e seu objeto, será realizada pelo social. O desejo passa a ser lido como uma produção historicamente
determinado.
Interessante
é verificar a ambigüidade para onde Freud é carregado, quando procura sustentar
o fundamento platônico de um objeto ideal para a sua pulsão.[9]
Os outros objetos passam a ser cópias imperfeitas de um modelo, talvez
inatingível.[10]
As perversões serão cópias degradadas em relação à perfeição do objeto
idealizado. Mas, apesar disto, Freud acaba sustentando a imperfeição, o desvio
e o erro, pois termina por retirar as perversões da ordem da patologia.
Afirmando seu lado sofista,[11]
Freud assume que as perversões fazem parte da vida sexual quotidiana. E a
patologia só será caracterizada, não pela existência das aberrações, porém por
sua intensidade e exclusivismo.
Os doentes mentais
mostram unicamente tais aberrações em um grau mais elevado ou - coisa especialmente
significativa - levadas à exclusividade, e substituindo a satisfação sexual
normal. [12]
No
desenvolvimento da sexualidade, basta que o indivíduo “se apegue excessivamente
ao prazer preliminar para deslizar para a perversão”.[13] As pulsões são produzidas em várias partes
do corpo. E ela não tem um objeto próprio, ou um objeto natural.
Como
afirma Garcia-Roza (1990):
Seu objeto será
oferecido pela fantasia, o que implica a submissão da pulsão à articulação
significante, e é aí que vai ser possível a caracterização do sexual.
Anteriormente a essa submissão, o sexual carece de significado. E é em termos
de significantes que o sexual vai se constituir como diferença. [14]
A partir
de 1905, um grande número de autores vai se interessar pelo estudo das
perversões. Como nosso interesse não é o de fazer um levantamento das diversas
teorias, e sim montar um suporte teórico para a interpretação de Álbum de Família, peça de Nelson
Rodrigues, estamos delineando apenas os pontos de vista mais clássicos. Para isto nada melhor do que
tomar a síntese feita por Fenichel, a qual permanece ainda hoje uma das
melhores referências a respeito da psicopatologia psicanalítica. Chazaud, por
exemplo, baseia-se em Fenichel, para se organizar em torno das perversões.
Introduz contribuições mais atuais sobre a constituição e o processo das
perversões.[15]
Entretanto todas estas visões continuam mantendo as características essenciais
de exclusividade e parcialidade da pulsão perversa. Sendo
nossa intenção apenas clarificar a terminologia que vamos empregar na interpretação
da peça de Nelson, vamos evitar a exposição dos contrastes e nuances que vão
colorindo as diversas formulações. Como foi exposto, estamos nos atendo apenas
às formulações compreendidas como mais “clássicas”. Afinal, como o próprio
Chazaud nos lembra, após analisar as diversas perspectivas teóricas:
O terreno das
perversões segue sendo, pois, problemático. Parece sensato admitir, como ponto
de partida, os pressupostos clássicos. E, além disto, não está fora de tom o
fazer a relação de algumas formas perversas mais conhecidas, sem querer esgotar
todas as sutilezas clínicas e pretender resolver todos os problemas.[16]
De
qualquer forma o livro de Fenichel é uma leitura obrigatória, por sistematizar
a doutrina psicanalítica sobre a matéria. Logo no início de seu capítulo sobre
as perversões, ele nos reporta algo curioso. Os perversos sentem uma compulsão a exercer seu sintoma. Demarca claramente a existência de uma
estrutura especificamente perversa. Este era o caminho aberto por Freud, quando
ele afirma, nos Três Ensaios sobre a
Teoria da Sexualidade, que “a neurose
é o negativo da perversão”. Outros autores vão percorrer esta trilha,
procurando um melhor registro da estrutura perversa. Mas Fenichel já tinha
tornado este deslocamento mais fácil, pela clareza de suas colocações. Fazendo
a distinção em relação à estrutura neurótica, ele vai afirmar que o neurótico
sente o sintoma[17]
como penoso. Ora, o sintoma é efeito
do reinado perverso polimorfo da infância. Quando mal elaboradas, as pulsões
parciais da sexualidade pré-genital, procurando uma via de acesso para a
satisfação, acabam constituindo o sintoma. Por isto se diz que os sintomas
neuróticos são atos perversos disfarçados; ou, como disse Freud, a neurose
tenta reprimir aquilo que a perversão atualiza.
A perversão
assume objetivos idênticos aos da sexualidade infantil.[18]
E uma distinção que marca o estilo do perverso está no caráter prazenteiro[19]
do impulso. Como nos recorda Chazaud:
As atividades
perversas se cumprem com a finalidade explícita de alcançar o gozo. No instante do ato, o perverso
está de acordo com sua impulsão. Este é o escândalo. [20]
Fenichel
desenvolve este fenômeno de uma forma mais detalhada:
O que parece ser
característico é o modo de sentir o impulso irresistível. O neurótico sente-se
forçado a fazer algo que não lhe agrada,
enquanto que o perverso se sente forçado a algo que lhe agrada, ainda que contrário à sua vontade. Mesmo que ele
possa vivenciar o sentimento de culpa, no momento da realização do ato, este
será sentido como algo que o sujeito quer fazer com o objetivo de alcançar um
prazer. [21]
Para
Freud, a perversão iria se constituir por uma fixação (detenção no desenvolvimento) ou por uma regressão. Mas, nem todas as regressões
à sexualidade infantil vão constituir perversões típicas. Quanto à fixação, é
ela que vai determinar qual dos componentes infantis será privilegiado.
Mas, como
caracterizar a perversão típica? Segundo a definição de Fenichel, o perverso
típico só tem uma maneira de achar prazer sexual:
Todas suas energias
sexuais se acham concentradas em um instinto parcial particular, e este
instinto hipertrofiado compete com sua primazia genital. [22]
A
perversão é, então, a intensificação ou predomínio de uma determinada pulsão
parcial que se torna extremamente privilegiada. Mas isto não exclui o perverso
do gozo genital. O predomínio da genitalidade não deixa de existir. Está apenas
perturbado. A sexualidade perversa não é
desorganizada como a sexualidade perversa
polimorfa das crianças ou das personalidades infantis.
Existe
aqui uma diferença que marca o limite entre a pulsão perversa-polimorfa e o
caráter patológico da perversão. A
patologia não está no modo nem no objetivo sexual, porque de outra forma a
perversão infantil seria patológica. A perversão só se constitui como patologia
enquanto prática exclusiva e limitada, fixada nas pulsões que se
tornaram preliminares à lei da genitalidade.
O
que seria então determinante na constituição da perversão? Dentro da teoria
psicanalítica que tem o Complexo de Édipo como nuclear, a resposta não poderia
ser outra. Só que o perverso vai viver o Édipo e a concomitante angústia da
castração de um modo muito especial.
E se, numa primeira
aproximação, as perversões clínicas aparecem como simples “fixações” sexuais
infantis, sua estrutura efetiva inclui também a angústia, a culpa, a regressão,
dentro de um jogo diferenciado até o fenômeno edípico que dá aos fatos todo seu
relevo. [23]
Mas não
se trata de uma simples substituição da sexualidade adulta, genital pelo
erotismo parcializado da primeira infância. O fato de uma das pulsões parciais
se achar intensificada não significa que o perverso não sofra suas repressões.
Uma parte da sua sexualidade infantil é recalcada, o que termina por perturbar
a capacidade genital. A genitalidade espontânea fica bloqueada. E é para
superar tal bloqueio que surge o sintoma perverso.[24] Ou
seja, somente a gratificação de uma determinada pulsão parcial vai conseguir
anular a perturbação da primazia genital. O que a psicanálise propõe, então, é
que a perversão é adotada como uma forma
de defesa. O perverso, assim, faz uma repressão
parcial. Em Fetichismo, Freud vai
se aproveitar do termo escotomização para se referir a este fenômeno. A
escotomização indica o fato de uma parte da vida psíquica não reconhecer uma
realidade desagradável, enquanto a outra parte se dá conta perfeitamente
daquele fato.[25]
Em outras
palavras, a perversão vai procurar facilitar o recalque de uma parte
insuportável da sexualidade infantil, a qual é inadmissível para o sujeito,
devido à quantidade de angústia que ela provoca. É este o elemento comum que
percorre todas as perversões. Ou seja, existiria em todas elas (sadismo,
masoquismo, pedofilia, fetichismo, etc.) um único fator que perturbaria a
primazia genital. E é o mesmo fator que vai produzir idêntico efeito de medo e
culpa nos neuróticos. É o medo da
retaliação quando a criança se envolve nos complexos sentimentos do Édipo. “O gozo sexual se fez impossível por causa do temor da
castração”.[26] O
que é decisivo na perversão é o tremendo impacto causado pelo complexo de castração. Como lembra
Chazaud:
Tudo acontece como
se o perverso recusasse a angústia da castração e negasse seu temor,
hipertrofiando um instinto parcial
que assegura a repressão do complexo de Édipo à maneira de uma recordação encobridora.
[27]
É sempre
a angústia de castração o obstáculo que vai impedir o exercício de uma
sexualidade genital completa e satisfatória. E se o prazer genital se tornou
impossível, em vista dos perigos da castração, nada mais resta a não ser
regredir àquela parte da sexualidade infantil em que a pessoa está fixada.
Algumas experiências da infância agem como traumas fixadores, e vão atrair o
perverso.[28]
Esta
fórmula é aplicada a todas as perversões, sem exceção. Fenichel vai examinar
cada uma delas através do mesmo crivo.[29]
A mesma coisa vai fazer Chazaud. Embora sua escolha recaia em um número menor
de perversões, ele estuda alguns destes fenômenos em capítulos separados. É
dele a seguinte observação à propósito da constituição da estrutura perversa:
Um estudo
estrutural profundo nos mostraria que os processos perversos têm relações
antitéticas e simétricas com a sublimação e com a idealização, que é preciso
tomar aqui em consideração. [30]
Chazaud
lembra que a idealização está na origem da repressão
assim como estaria na origem das formações
reativas e das sublimações. A este propósito queremos apenas tecer uma
consideração. Pensamos ser possível dizer, de fato, que a idealização norteia a repressão.[31]
Mas devemos tomar cuidado com este sentido da idealização, uma vez que este
mecanismo de defesa está muito vinculado a processos de dissociação da
realidade.[32]
Mas Chazaud é tentado a pensar que as perversões representam um paradoxo da idealização:
Idealização da pulsão parcial, intensamente satisfeita
e “superestimada” em uma relação parcial também com o objeto ou com um objeto parcial. [33]
Para
finalizar, uma última observação que se aplica às perversões de um modo geral.
A perversão despersonifica o objeto do desejo perverso. Em certo
sentido, a cooperação do parceiro é dispensada, e ele é rebaixado da ordem de objeto de amor para a dimensão de objeto de uso.
No entanto, existe na dupla perversa uma
cumplicidade tácita, que aponta para uma espécie de acordo entre o sádico e o
masoquista, ou entre o voyeur e o exibicionista,
entre o fetichista e seu fetiche. Estes vínculos, assim como outras questões
teóricas que se apresentarem, vão ser melhor examinados no decorrer da análise
de Album de Família, quando então as
características de personalidade dos diversos personagens contribuirão para
tornar mais clara a exposição das diferenças entre algumas formas de
perversões.
[2]
S. Freud, Os Três Ensaios para uma Teoria da Sexualidade, p. 1.18l.
[3] Op. cit., p. 1218.
[4] Op. cit., p. 1.181.
[5]
Franz Alexander - Fundamentos da Psicanálise, p. 238.
[6]
Estes fatos são comprovados não só na infância, como também em culturas
primitivas.
[9]Talvez
por isto Freud não ouse ainda combater
a designação do homossexualismo como uma “aberração da sexualidade”.
[10]
A sublimação vai se encarregar de desviar a pulsão de seu objeto original, que
fica perdido para sempre. Exceto para o psicótico ou para o pervertido.
[11]
A filosofia platônica lida com a verdade
das Idéias. Já a filosofia estóica
valorizava os incorporais, ou seja os
acontecimentos, formadores do sentido. Os sofistas instrumentalizam esta
filosofia e vão ser terrivelmente combatidos por Platão. O diálogo com Górgias
tem este fim, arrasar com o sofista. Porque eles assumem a lógica estóica,
criando ilusões que enganam o povo. Os estóicos eram nominalistas. Os universais, as essências, as Idéias não
existiam para eles. As idéias gerais eram abstrações, que não tinham condição
de expressar o ser da coisa, mas somente o pensamento sobre a coisa. O real só
podia ser individual. A lógica platônica, então, não podia fazer nenhum sentido
para o estóico. Ela convidava a duas distinções: a) por um lado, as coisas
limitadas e medidas, as qualidades fixas (permanentes ou transitória), que era
a dimensão das Idéias e, b) por outro
lado, a dimensão do puro devir sem
medidas, um devir-louco que não se detém jamais, que acontece nos dois sentidos
ao mesmo tempo contrariando o “bom senso”;
é nesta dimensão que se passa aquilo que se subtrai à ação da Idéia. O puro
devir é a matéria dos simulacros. O
simulacro contesta “ao mesmo tempo tanto o modelo como a
cópia”. É isto que Deleuze vai
nos ensinar na Lógica do Sentido. A lógica estóica trabalha sobre os paradoxos
dos efeitos de superfície. E Platão
combate tudo isto como erros e ilusões, contraposições da Verdade das Idéias.
Quando Freud se posiciona a favor
dos homossexuais e das perversões, absorvendo estes fenômenos como efeitos de superfície, como comportamentos
que vão estar sujeitos ao devir dos
acontecimentos, ele está combatendo a Verdade estabelecida da Natureza. Por
isto ele é um sofista.
[14]
Luis Alfredo Garcia-Roza, O Mal Radical em Freud, p. 144.
[15]
Chazaud faz uma revisão crítica,
bastante interessante, sobre algumas das perspectivas contemporâneas sobre a
perversão. Cita os trabalhos da escola lacaniana, referindo-se à sua melhor
representante, neste terreno, P.
Aulagnier. Refere-se ao desdobramento da visão kleiniana, realizado por Diatkine. E cita ainda Glover e Joyce MacDougall. Além destas perspectivas psicanalíticas, Chazaud discute também o ponto de vista
antropológico. J. Chazaud, Las
perversiones sexuales.
[16]
Op. cit., p. 53
[17]
As pulsões parciais de uma sexualidade pré-genital continuam se esforçando na
direção da satisfação e acabam constituindo uma via de acesso à satisfação,
através do sintoma neurótico.
[18]
Fenichel resumindo a questão,
constata que “perversos são pessoas nas quais a sexualidade é infantil, em vez de ser
adulta”. Otto Fenichel , Teoria Psicoanalitica de las Neurosis,
p. 416.
[19]
Embora existam ações perversas que podem
ser perturbadas pelos sentimentos de culpa, sentindo-se como penosas, ao
passo que alguns jogos compulsivos podem adquirir caráter prazenteiro.
[20] J. Chazaud, Las perversiones sexuales, p. 37.
[21] Otto Fenichel, Teoría psicoanalítica de las neurosis, p. 414
[22] Op. cit., p. 417.
[23] J. Chazaud, Las perversiones sexuales, p. 38.
[24]
A hipertrofia da pulsão parcial tem dois propósitos: a) servir como
reasseguramento contra a angústia de castração e b) servir como força de
repressão contra o Complexo de Édipo e outros componentes intoleráveis da sexualidade infantil. Assim, o perverso faz uma “repressão parcial”
da sexualidade infantil, ao mesmo tempo em que exagera outras partes dela. “A hipertrofia de um determinado componente
sexual infantil é utilizada, aparentemente, para fortalecer tal repressão”,
Fenichel, Otto, Teoría psicoanalítica de las neurosis, p. 418.
[25]
“Se em tal conceito queremos diferenciar
mais agudamente o destino que sofre a idéia,
da vicissitude que acontece com o afeto, bem podemos reservar para este último o termo
repressão, e em tal caso a palavra
que mais enquadra o destino da idéia
ou da representação seria denegação ou repúdio”. S. Freud, Fetichismo, p. 2994.
[26] Fenichel, Otto, Teoría psicoanalítica de las neurosis, p. 418.
[28]
De modo geral, foram experiências eróticas que proporcionaram um reasseguramento
contra a temor e angústia da retaliação, onde a gratificação sexual foi sentida
com especial intensidade porque se aliou à uma negação da castração.
[29]
Fenichel estuda, em separado, todo
um conjunto de perversões: homossexual idade masculina, pedofilia, fixações de
diversos gêneros (anal, oral, voyeuristico); homossexual idade feminina;
fetichismos colecionadores; travestismo, exibicionismo, voyeurismo; coprofilia;
perversões orais; submissão sexual masoquística; sadismo; masoquismo; e
finalmente, combinações de perversões com neuroses. Fenichel, Otto, Teoría
psicoanalítica de las neurosis, Pag. 415-494.
[30] Chazaud, J. , Las perversiones sexuales, p. 40.
[31]
A idealização amplifica determinadas idéias, e constrói modelos. Os ideais vão
sobreviver como normas éticas e estéticas, enquanto sua contrapartida deverá
ser reprimida.
[32] S. Mellor-Picault, Idéalisation et sublimation.
[33]
Tratar-se-ia de uma idealização parcial, que distinguiria a perversão das
verdadeiras sublimações (assim como das formações reativas), que acontecem
diante do objeto total. Imaginamos que Chazaud tenha sido obrigado a adotar esta saída em funcão da
ausência de distinção entre idealização e ideal. Esta distinção está bem
realizada pelo artigo de Mellor-Picaut citado
anteriormente. J. Chazaud, Las
perversiones sexuales, p. 42.