Conceito de Expressão e Testes Expressivos
Elza Rocha Pinto
Introdução
Consultando diversas contribuições que ao
longo dos anos foram se somando para um melhor posicionamento dos testes de
personalidade, verificamos que o conceito de testes expressivos acabou se
perdendo, absorvido pela categoria da projeção.
Na verdade, na maioria dos textos
clássicos sobre testes, o conceito de expressão foi relegado a um segundo
plano, merecendo ocasionalmente referências passageiras. Isto permitiu o
predomínio do termo projeção, definido pela teoria psicanalítica.
Pensando em colaborar para uma melhor
fundamentação teórica destas técnicas, procuramos focalizar neste artigo o
conceito de expressão, contrapondo-o inclusive ao de projeção, para em seguida
verificar como alguns autores se posicionaram em relação aos testes
expressivos.
A expressão na História
A capacidade expressiva sempre chamou a atenção dos
homens, tendo sido registrada inúmeras vezes pelos mestres da palavra através
de metáforas encantadoras. Quem não se lembra, por exemplo, da ressaca nos olhos de Capitú, envolvendo
e arrastando infinitamente seu namorado? Através desta forte imagem expressiva,
Machado de Assis (1899/1955) conseguiu comunicar todo o maravilhoso e perigoso
jogo de sedução da bela adolescente, em D. Casmurro.
Na verdade, a história da expressividade é bastante
antiga. Inicia-se de forma sistematizada com os estudos da mímica e dos gestos,
com os gregos. Porém, mesmo anteriormente, os poetas já se encantavam com os movimentos
expressivos, procurando descrevê-los em seus versos. É possível encontrar tímidas
referências às interioridades de alguns deuses até mesmo na arcaica concepção
de linguagem com a qual Hesíodo (século VIII a.C./1981), construiu seu discurso
sobre a experiência do sagrado, ao contar a origem do universo. Através de seus
versos ficamos sabendo que os tios paternos de Zeus, Trovão e Relâmpago,
possuíam um violento ânimo. E, antes dele,
Homero permitia que seus heróis expressassem sentimentos e afetos. Segundo este
poeta, quando o poderoso Agamenon se enfurecia, seus olhos tinham o poder de expressar
este estado interior. Assim aconteceu quando o inquieto general se zangou
diante da revelação de que ele teria sido o causador da maldição da peste que
Apolo lançara sobre os aqueus. Neste momento, o heróico átrida levantou-se furioso,
“tinha o negro coração repleto de ira e seus olhos flamejavam como o fogo” (HOMERO,
sec. VIII a.C/1962: p.12). Descrições tão expressivas quanto essas podem ser
encontradas em diferentes personagens da Ilíada
e da Odisséia. Para o poeta, a
expressividade fisionômica e corporal dos heróis era apenas um reflexo do
Olimpo, onde os deuses também se comunicavam através de gestos e puros movimentos.
Assim Zeus, com um simples inclinar de cabeça, selava um compromisso assumido.
Entre as grandes divindades, Atenéia era a deusa
dos olhos brilhantes, os quais expressavam desta forma a luz de sua
sabedoria e de seu conhecimento.
Contrapondo-se à poesia épica, o gênero lírico vai
preferir tematizar “o aqui e agora, os sentimentos, atitudes e valores individuais
do poeta” (TORRANO, 1995:12). As Musas (filhas de Zeus e de Mnemósyne), através
de seus cantos e danças expressavam verdades e mentiras, como elas comunicaram
a Hesíodo, quando permitiram seu canto da Teogonia
sobre a origem dos deuses: “Sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos, e
sabemos se queremos, dar a ouvir revelações" (HESÍODO, século VIII
a.C./1995:88). É possível supor que as Musas estão falando sobre as ficções que
vão inspirar ao poeta, através das quais ele expressa sua versão subjetiva sobre
a realidade. A história romanceada é uma ficção, porém semelhantes aos fatos.
São as mentiras que o poeta cria, por
inspiração das Musas. A literatura vai produzindo minuciosas descrições da
fisionomia dos personagens, através das quais eles revelam suas maneiras de
pensar e sentir, seus desejos e emoções.
No domínio das artes plásticas, o artista sempre
buscou captar o interior do homem, através da expressão do rosto, ou dos
gestos. Leonardo da Vinci era um mestre
nesta captura das paixões humanas através dos traços expressivos da fisionomia.
Por isto o sorriso de Mona Lisa (1503-1506) continua exercendo um fascínio que
gera interpretações variadas sobre seu significado.
Nas pinturas e desenhos, o movimento expressivo é um
registro direto das emoções. Quem pinta ou desenha consegue expressar seus
sentimentos através dos traços firmes ou frágeis, da textura das cores (grossa
ou fina), da escolha das tonalidades, e inclusive através da organização formal
de todos os elementos gráficos (como distância, perspectiva, altura e outras
marcas) que o traço vai deixando na tela ou no papel. Emoção e razão são
realidades diversas que podem gerar contradições interessantes nos desenhos, e
em outras manifestações artísticas.
Assim, por exemplo, a importância de um objeto vai
ganhar expressão através de seu tamanho por relação a outros elementos do
ambiente que não são significativos. Nos desenhos pré-históricos encontram-se
animais que são muito maiores que os caçadores, com isto expressando um
conjunto de sentimentos: medo da agressividade do animal, importância da caça
para a sobrevivência do grupo, valorização da ação heróica através de um
combate onde foi necessário enfrentar um oponente muito mais forte. Nos
desenhos de Van Gogh, as representações do sol mostram o quanto sua luz e
brilho eram importantes para este pintor. Nos desenhos infantis, a casa de uma
criança pode ter o mesmo tamanho de uma pessoa que está do lado de fora,
indicando o mesmo grau de importância para ela. Estes exemplos mostram como os
elementos expressivos podem desorganizar
a representação da realidade, para tornar clara uma mensagem. A distorção das
percepções pode ser vista em muitas obras de arte, como nas estranhas figuras
retratadas por Picasso, ou nas inversões do espaço provocadas por Baselitz. Suas
pinturas procuram se opor ao domínio de algumas tendências, como a abstração, o
serialismo, o minimalismo e o conceitual. Ele vai se filiar ao figurativismo,
porém procurando uma forma de expressar uma linguagem sem os constrangimentos
da técnica, estética ou do gosto comum. Ele procurou um modo original de
retomar o processo de percepção. A partir da década de 60, Baselitz cria um
estilo pessoal, através da inversão da imagem. Apesar das imagens serem
reconhecíveis, o mundo vira de cabeça para baixo. As condições de percepção não
são mais normais. Da mesma forma Picasso, ao retratar simultaneamente a
perspectiva frontal e lateral de uma pessoa, liberta uma nova forma de ver o
mundo. A multiplicidade perceptiva faz parte do real. Os critérios expressivos
podem romper os conceitos clássicos de espaço e de tempo. As seqüências dos
temas seguem um tempo flexível e inconstante, que tanto podem expressar a duração como o instante. Os espaços podem ampliar ou encolher, imprimindo maior
intensidade aos desenhos, ou em outras formas de expressão, como na escultura
ou no cinema.
Tanto quanto os pintores, os escultores também sabem o
quanto o gesto ou uma pose podem significar. Rodin emociona seu público com
esculturas profundamente expressivas, onde o movimento se mantém como tônica
principal. O Homem que Cai (1882) é
extremamente tocante, com seu pé que quase chega a flutuar sobre o chão. Nas várias
esculturas sobre Balzac, o que conta é justamente a expressão que é possível
ver na face deste escritor. Desesperada, a Musa
Trágica (1890-96) nem precisa de palavras para transmitir tanta dor. E quem
pode esquecer a beleza do Filho Pródigo
(1885-7), cujos braços arremessados para o alto transmitem toda a intensidade de
sentimentos complexos, que misturam inquietação, tensão e nervosismo com uma esfuziante
alegria. Somente com gestos e movimentos, o bronze do escultor conseguiu
capturar uma enorme riqueza de emoções, sem necessitar de palavras.
A arte dramática pode ser definida como essencialmente
expressiva. No teatro, com a plasticidade de sua postura corporal, o ator vai
procurar enfatizar o sentido da palavra, a intenção da frase. Cada meio de
comunicação enfatiza diferentes formas de expressão. O gesto varia conforme o
contexto, mas o objetivo é sempre a expressão das idéias e dos sentimentos. Na
televisão, o ator procura focalizar sua expressão da cintura para cima, priorizando
o rosto, onde as silenciosas nuances dos movimentos fisionômicos transmitem
diferentes mensagens. No cinema, as ações e movimentos ganham uma dimensão
maior, através dos zooms e dos flash-backs, que ampliam a capacidade
expressiva dos atores.
A dança é pura expressão. Ou, como diria Artaud (1984),
poesia em movimento. Através da
intensidade emprestada a seus gestos, a bailarina transmite a dor de um amor
não correspondido. Ela é capaz de fazer o público entender a dramática dimensão
de sua paixão através dos sedutores movimentos de seu corpo. A expressividade
do solo A Morte do Cisne, que Anna Pavlova dançou em 1905 é tão
intensa, que até hoje ela consegue comover as pessoas que assistem sua
interpretação, imortalizada na Internet. E sem a necessidade de dizer uma só palavra.
Como disse um espectador: “Este vídeo é quase um poema, você pode sentir a
mágica que ela está transmitindo” (Lalailm, 2007).
Com a passagem dos séculos, foi sendo escrito um longo
tratado sobre a capacidade de expressão não verbal, para o qual várias pessoas colaboraram.
Com obras, desenhos e pinturas, porém também com reflexões escritas em textos,
como Leonardo da Vinci fez, na Renascença. Porém foi durante o século XVIII que
o estudo sobre a expressão se tornou mais sistematizado. Ao publicar seu livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, onde defendia a funcionalidade
da expressão das emoções, Darwin (1972/2000) acabou fornecendo os fundamentos
básicos para o desdobramento de outros estudos. O positivismo também colaborou,
ao fornecer fundamentos físicos mais rigorosos para o estudo da expressividade
humana.
No campo da psicologia, depois que ela se afirmou como
uma área do conhecimento independente da filosofia, surgiram contribuições
importantes. Em 1933, Allport e Vernon, nos Estudos
sobre o Movimento Expressivo, definem o termo como "aquele aspecto do
movimento que tem traços suficientemente distintos para diferenciar um
indivíduo de outro" (apud BELL,
1951: 243). Segundo estes autores, a avaliação da personalidade poderia ser
realizada em três diferentes dimensões. A primeira delas compreenderia traços,
atitudes, interesses ou sentimentos que estruturam o interior da personalidade;
a segunda seria a dimensão da expressão e do comportamento. Finalmente, a
terceira compreenderia a percepção e a interpretação do comportamento pelo
outro. Para eles, o comportamento expressivo continha aspectos do movimento
peculiares, com isto diferenciando as pessoas. Os movimentos e gestos
expressivos refletiriam o estilo
individual de cada um, o qual é relativamente estável. Além disto, existiria
uma correspondência entre estes comportamentos expressivos e outras disposições
da personalidade, como traços, atitudes e valores. Estava aberto o caminho para
as técnicas expressivas, já que a observação e análise das expressões passava a
ser uma via de acesso para o estudo da personalidade.
Entre 1914 e 1940 os psicólogos realizaram diversos
estudos das expressões faciais, procurando compreender melhor a linguagem não-verbal.
Entretanto suas pesquisas não chegaram a contribuir para qualquer
sistematização do conceito de expressão. Tais estudos podem ser encontradas em
Wolff (apud BELL, 1951), ou em
Moragas (1965). Em 1943 Wolff publica A
Expressão da Personalidade, onde expõe alguns pesquisas experimentais sobre
os movimentos, focalizando várias expressões corporais não verbais, inclusive a
escrita. Ele procurava relacionar os movimentos do corpo com a dinâmica
inconsciente, apoiando-se teoricamente na psicologia da Gestalt e na psicanálise.
Mais recentemente, Jerônimo de Moragas
(1965), defende sua tese, A
Expressividade Humana. A fisiognomonia procura reconhecer as
características de personalidade através de suas expressões faciais O rosto
revela mensagens que nem sempre a pessoa queria comunicar.
O apoio destes estudos permite entender que o comportamento
expressivo vai denotar a capacidade de manifestar sentimentos e pensamentos através
de um signo sensível. O signo tanto pode ser uma palavra ou frase, como um
movimento corporal, uma expressão do rosto, uma atitude do corpo, um gesto da
mão, nuances da voz, ou a realização de um desenho no papel. Numa primeira abordagem,
seria possível pensar que a comunicação verbal (palavra ou frase) estaria a
serviço daquilo que uma pessoa pensa, dos juízos que ela desenvolve sobre o
mundo, enquanto que os movimentos e os gestos serviriam para emprestar sentimentos
e afetos a estas mensagens.
A linguagem corporal é anterior à fala. Partindo deste pressuposto, Entendendo
perfeitamente este fato, e querendo impactar seu público, Artaud briga com o
texto. Ele procura enfatizar os aspectos expressivos da cena dramática, e
articula um teatro que explode em cores, luzes, sons e movimentos. Esta nova plasticidade acaba revolucionando as
clássicas montagens teatrais organizadas em um comportado palco italiano,
criando admirações, alegrias, desejos e espantos. O teatro de Artaud era poesia em movimento. Moragas (1965),
lembra que a primeira palavra da criança não é um substantivo, mas uma
interjeição com a qual manifesta uma admiração, uma alegria, um espanto, um
desejo.
No entanto, é importante não esquecer que a palavra
também tem o dom de expressar sentimentos, independente de seus significados
mais concretos. Porém, para além do significado metafórico ou gramatical, é
preciso lembrar que o contexto de uma frase pode mudar inteiramente, conforme o
tom da voz e nuances que vão enfatizar certas palavras. Hammer (1969), no seu
capítulo sobre os componentes expressivos dos desenhos, procurando
diferenciá-los do conteúdo propriamente dito, oferece um bom exemplo da
variação de sentidos que as mesmas palavras podem apresentar. Da mesma forma
como a palavra é um significante vazio, que ganha seu sentido conforme a frase
onde surge, esta mesma frase vai ganhar significado conforme a intenção do
sujeito, sublinhada a partir dos elementos expressivos de seus gestos e movimentos.
Podemos dizer que a mesma coisa acontece em relação às
técnicas gráficas. Por isto, para
compreender um desenho, para além do seu conteúdo, é necessário ouvir a
entonação dada pelas diferentes ênfases atribuída às imagens pelas nuances dos
traçados, das cores, das sombras, perspectivas, proporções e outros elementos
expressivos.
Voltando à relação entre os gestos e palavras, e
avançando um pouco mais em nossa análise, vamos ver que os movimentos
apresentam uma dupla dimensão.
Eles não apontam apenas para as emoções da pessoa.
Além de denunciarem nossos estados afetivos, eles também revelam idéias e
pensamentos. Existem determinados gestos que até por convenção indicam aquilo
que uma pessoa está pensando. Quando um juiz, em um tribunal, bate seu martelo
no meio do burburinho que toma conta da assistência, ele está exigindo ordem e
silêncio; ou quando um soldado bate continência, ele está expressando
obediência e respeito diante de um superior. Por isto podemos concordar com
Moragas quando ele usa o termo expressão e expressividade como sendo a capacidade
de manifestar pensamentos e sentimentos por meio dos movimentos do
nosso corpo.
Partindo desta definição, o que seriam, então, as
técnicas expressivas? Seriam aquelas que procurariam "investigar as
características da personalidade por meio das ações e padrões dos movimentos
corporais e do ritmo" (SCHEEFFER, 1962). Alguns movimentos escapam ao
controle consciente. Por isto, a expressão corporal pode denunciar aquilo que
se quer esconder. O tremor do papel na mão do orador delata seu nervosismo
diante de seus ouvintes. Aquilo que se vê às vezes é mais importante do que
aquilo que é dito. E é isto que leva Davis, uma estudiosa da comunicação não
verbal, a afirmar:
De certa forma, me foi uma liberação
perceber o quanto as minhas emoções sempre estiveram à mostra. Saber que,
graças à intuição, as pessoas haviam-me compreendido muito além daquilo que eu
fora capaz de lhes dizer, em palavras, sobre como eu me sentia, sobre o que
realmente eu queria dizer, sobre como estava eu reagindo (DAVIS, 1979:16).
Durante muito tempo os antropólogos concordaram em que
os movimentos do corpo não se davam ao acaso, e que eles podiam ser tão
legíveis quanto qualquer linguagem. Os estudos para deciframento deste código
corporal só começou a serem desenvolvidos na segunda metade do século XX.
Os Testes Expressivos
John E. Bell (1951) mostra como os testes expressivos vão
surgir. O estudo da personalidade vai sendo feito através de determinadas
atividades. Por exemplo, o emparelhamento “das expressões faciais de quadros e
silhuetas com traços de personalidade, das expressões faciais com o estilo
literário e artístico, e do caráter da letra com retratos, rubricas e sexo” ou experimentos
que investigam “as características da letra, o modo de andar, o porte, e o
gesto” (BELL, 1951:244). Estes estudos contribuíram muito para a construção das
técnicas expressivas. Porém, só com Mira y López (1962) o estudo dos movimentos
expressivos se dirigiu à aplicação prática, através da interpretação da
personalidade em situações clínicas.
Werner Wolff (apud BELL, 1951), um dos pioneiros da
psicologia expressiva, realizou uma distinção interessante que vai ser retomada
depois por diversos autores. Ele diferencia três tipos de comportamento:
a] Comportamento adaptativo - determinado
pela realidade externa. Diante das técnicas de avaliação da personalidade, este
aspecto adaptativo é delineado pelo estímulo externo, que nesta situação
configura não apenas o próprio material do teste, como as instruções para a
realização da tarefa. O significado do material é bem definido, claro,
convencional e preciso. E desta forma o sujeito pode responder com facilidade
às exigências desta realidade externa, que no caso é a situação da avaliação
através do teste.
Existem dois planos através do qual a
adaptação à realidade pode ser avaliada através do comportamento do sujeito
quando realiza o teste. Em primeiro lugar, através da própria reação à situação. Existem diferentes tipos
de reação a uma situação de avaliação. Por exemplo, o sujeito pode atender ou
não ao pedido do examinador. Diante da prancha do Rorschach, ele pode associar
livremente, ou pode recusar a prancha, ou mesmo utilizar a prancha para
brincar, como se ela fosse uma espécie de tamborim. Estes dois últimos
comportamentos não seriam adaptativos. Se, diante do pedido de relato livre
para o CAT, uma criança começar a acrescentar na sua estória personagens e
objetos que não existem na imagem, embora ela esteja atendendo à demanda do
examinador, seu comportamento também não estará sendo totalmente adaptativo.
Em segundo lugar, o comportamento
adaptativo pode ser deduzido através do conteúdo
produzido. Aqui, as normas de grupo fornecem subsídios para a compreensão do
tipo de adaptação à realidade que se apresenta em um determinado sujeito. Como
então seria possível determinar a adequação do ajustamento do indivíduo,
pergunta-se Ames (1953) logo na introdução de seu livro sobre o Rorschach
infantil:
Os
fatores essenciais em tal avaliação parecem ser a adequação do comportamento,
tanto para o próprio indivíduo, como para as circunstâncias externas às quais
ele está reagindo. Colocado de um modo diferente, o bom ajustamento é uma
função da consistência interna e externa. As reações do sujeito precisam ser
adequadas à natureza do ambiente externo e à natureza de seu estado interior. O
produto final, ou seja, a resposta ou reação, torna-se assim uma integração
destas duas condições, externa e interna (AMES, 1953:5).
Por meio de alguns aspectos da análise
formal é possível fazer a avaliação desta integração, considerando-se também a
adequação do comportamento do indivíduo em relação à sua norma. No Rorschach
existem tabelas normativas como a de Halpern (1952), ou de Ames (1953), que
permitem a comparação de dados, como a proporção dos conteúdos animal, e das
porcentagens das respostas F, F+, etc.
As pranchas dos testes temáticos variam
seus conteúdos normativos. Em alguns deles, mais estudados - TAT, CAT -,
chegou-se a levantar quais os significados temáticos seriam mais frequentemente
atribuídos às imagens. Assim, se um adolescente, diante da imagem de um menino
com um violino, começa a descrever as viagens espaciais de um personagem
biomecânico extraterrestre, certamente ele não se comportando do modo pelo qual
a maioria dos sujeitos de sua idade reage. Seu comportamento não é adaptativo.
b] Comportamento projetivo - através do
qual o indivíduo atribui ao mundo externo necessidades, características,
idéias, desejos, qualidades e defeitos que são seus. Este material pode ter o
caráter consciente ou inconsciente. Em “A Ética Perversa de Álbum de Família”
(Rocha-Pinto, 1995), tivemos ocasião de examinar melhor esta questão. Sobre
este tema, existem diversos trabalhos, como os clássicos textos de Anzieu
(1978) sobre os diversos sentidos do conceito de projeção dentro da obra
freudiana, ou o texto de Bell (1951) que inclui no significado do conceito também
os conteúdos conscientes. Recentemente, Lima (2004) examinou algumas diferenças
em relação à projeção, que podem ser encontradas entre os modelos teóricos da
psicanálise. Neste artigo apenas vale lembrar que quanto mais estruturada for
uma situação, menor a possibilidade da ocorrência deste tipo de comportamento.
As projeções tendem a ocorrer com mais freqüência diante de estímulos ambíguos
e mal definidos. Os relatos das experiências gestaltistas não deixam dúvidas
quanto a isto (ABT & BELLAK, 1967). Por outro lado, as técnicas projetivas
supõem que “o sujeito organiza os acontecimentos em função de suas próprias
motivações, percepções, atitudes, idéias, emoções e de todos os outros aspectos
de sua personalidade” (BELL, 1951:20).
c]
Comportamento expressivo – O comportamento expressivo de uma pessoa consiste no
estilo de suas respostas. Diante de
uma mesma situação as pessoas apresentam comportamentos diferentes. Cada
avaliação é feita levando-se em consideração a maneira característica do indivíduo.
Cada sujeito maneja e organiza o material de modo diverso. Assim, na
interpretação, valoriza-se o elemento pessoal que se destaca na diversidade dos
comportamentos. Os padrões de movimentos, gestos, e ritmos de cada sujeito
variam consideravelmente. Esta peculiaridade das respostas expressa qualidades
que distinguem as pessoas.
Para chegar às motivações básicas, a análise da expressão em primeiro
lugar deve levar em consideração o modo do comportamento. A mesma tarefa,
executada por diferentes pessoas, vai mostrar muitas variações, que podem se
relacionar com a abordagem inicial, com os métodos utilizados, com a organização
do trabalho, ou com os resultados finais.
É possível dizer que testes expressivos são todos aqueles métodos ou
técnicas que permitem que o conhecimento do sujeito possa ser realizado a
partir do estilo de sua obra.
Estilo, eis a palavra chave, que acompanha o conceito
de expressão. O estilo define um modo de ser. O comportamento expressivo gera
um estilo, que se impregna tanto na obra do artista, quanto nas produções que
se originam a partir dos métodos e técnicas de avaliação da personalidade. O
padrão das ações, dos gestos, do ritmo, das diversas entonações de sua
linguagem não verbal, acabam por envolver o conteúdo produzido pelo sujeito,
que acaba revelando sua personalidade a partir de seu estilo.
Isto torna a situação dos testes de personalidade mais
complexa. Porque se o estilo define um modo de ser, este pode se expressar em
qualquer situação. Até mesmo diante de estímulos mais definidos, como nos testes
objetivos. A postura do sujeito ao se sentar, a forma pela qual ele segura o
lápis, a pressão que fica impressa no papel quando o sujeito risca suas opções,
todos estes comportamentos são signos que podem revelar muita coisa a respeito
do sujeito. Podem indicar segurança,
timidez, arrogância, agressividade ou impaciência. O estilo se revela através das coisas mais
simples de nossa vida diária, como no gesto de escolher uma roupa entre tantas
outras expostas numa vitrine. A pessoa pode procurar roupas mais simples, sem
tantos detalhes com cores neutras, ou pode preferir uma roupa mais
incrementada, bem colorida e que valorize suas formas. A primeira escolha
marcaria uma atitude de maior recolhimento, de timidez ou flexão para dentro de
si mesmo. A segunda escolha apontaria para uma atitude estilística onde se enfatiza
a beleza exterior, onde a aparência pode ser um valor, onde a extroversão fica
marcada pelo colorido e na exposição plástica do corpo. Os movimentos
expressivos, sejam eles amplos (como nas situações da vida cotidina), ou mais
limitados (como na reação frente a um teste) sempre trazem mensagens e significados.
E, nas situações de avaliação, oferecem um rico potencial diagnóstico.
A expressão, sendo uma característica humana, vai
caracterizar qualquer comportamento do sujeito. Hammer (1969) resume esta
questão:
A
rigor, pode-se afirmar com segurança que todo ato, expressão ou resposta de um
indivíduo - seus gestos, percepções, sentimentos, eleições, verbalizações ou
atos motores - de algum modo levam a marca de sua personalidade. Hammer (1969).
Assim, qualquer atitude do sujeito diante das tarefas
propostas podem revelar sua personalidade. Ao fazer um teste, o sujeito pode
mostrar uma atitude de colaboração ou de contrariedade, manifestar alegria ou
irritação, fazer sua tarefa em silêncio ou tagarelando sem parar de forma ansiosa.
Pode mostrar-se em dúvida sobre o que está fazendo, ou ter uma atitude calma e
confiante, ou mesmo não ligar para as opiniões dos outros. Seus movimentos
corporais, sua linguagem não verbal pode expressar sentimentos e emoções que o
sujeito não gostaria de revelar. É neste sentido que, ao sistematizar os métodos
expressivos, Weil (1967) relaciona diversas técnicas que incluem inclusive
medidas de reações fisiológicas (respiratórias, circulatórias, metabólicas,
etc.), e que Bernstein (in BELL, 1978) destaca entre as técnicas gráficos, os
testes grafológicos, além dos movimentos expressivos do teste de Mira y López, e
dos desenhos.
Classificação dos
Testes Expressivos
As tentativas de classificação dos testes como
expressivos ou projetivos acabam gerando ambigüidades. É importante lembrar que
a tarefa de organizar os métodos e técnicas de avaliação em categorias tem
apenas objetivos didáticos. Uma classificação sistemática vai ser sempre
artificial, se não for impossível, já que sempre será possível distribuir estes
testes em outras categorias. Por isto encontramos divergências acentuadas entre
os diferentes autores. Vamos procurar fazer uma abordagem rápida sobre algumas
destas diferenças.
John Bell (1951), no mesmo capítulo aborda técnicas
bastante diferenciadas quanto às suas características de validade e
fidedignidade. Em seu livro, no capítulo Movimentos
Expressivos e Técnicas Afins, encontramos misturadas técnicas da grafologia,
da análise da voz e do discurso e a dáctilo-pintura, com técnicas gráficas e viso-motoras,
como os testes de Bender (AILEEN, 1992) ou o Psicodiagnóstico Miocinético de
Mira y López (1962).
Para Mira y López (MIRA, 1987) as técnicas expressivas
apresentam uma singularidade bem específica. Elas abrangem todas aquelas técnicas
onde as expressões da personalidade poderiam ser registradas através de meios
audiovisuais, incluindo além das técnicas grafológicas e miocinéticas,
fonográficas, fisiognomônicas,
assim como todos os registros feitos com filme e fotografias, além daquelas
técnicas que registram reações de natureza fisiológica (cutâneas,
respiratórias, circulatórias, metabólicas, eletroencefalográficas). Segundo
este autor, estas técnicas permitiriam a exploração da personalidade, mas nelas
o sujeito não se projetaria. As pessoas concentram-se em si mesmas; elas se
comportam como podem, com suas reações habituais, que independem de uma vontade
consciente. São técnicas que não utilizam a linguagem falada, e onde o sujeito
não pode intervir no resultados porque este escapa ao seu controle consciente.
Já Anderson e Anderson (1967), em seu livro Técnicas Projetivas do Diagnóstico
Psicológico, outro manual clássico sobre testes de personalidade, no
capítulo sobre as técnicas expressivas, só inclui os estudos da grafologia, dos
movimentos corporais e expressões fisionômicas. Testes como o PMK, o HTP, o
MAPS, o teste do Mosaico, e as técnicas que compreendem narrativas e acabamentos
serão todos agrupados sob a classificação Outros
Métodos Projetivos.
Anastasi (1967) e Anzieu (1978) distinguem os métodos
expressivos por sua qualidade de catarse. Anzieu (1978) dá um lugar de destaque
às técnicas expressivas, quando atribui ao desenho uma das origens dos métodos
projetivos. Porém, também não dedica qualquer capítulo especial para eles.
Com Anastasi (1967) as técnicas expressivas acabam
sendo absorvidas como uma das categorias dos testes projetivos. Ela cita entre os
principais tipos desta categoria expressiva, as técnicas do desenho e de pintura,
as atividades de brinquedo, e o psicodrama. Estes métodos serviriam como
recursos diagnósticos e terapêuticos. Através da oportunidade de auto-expressão
oferecidas por eles, o sujeito não apenas revelaria suas dificuldades, como também
conseguiria se libertar delas.
Vamos deixar para examinar a questão do brinquedo como
técnica expressiva em outra oportunidade. Porém, vale a pena lembrar que o
brincar como meio terapêutico teve origem no início do século passado, quando
surgiram os primeiros passos no domínio da psicanálise infantil. Anna Freud (1927/1971),
Melanie Klein (1934/1964), Sophie Morgenstern (1948), Hugh Helmuth (apud
Aberastury, 1978), foram nomes que se destacaram como pioneiras nestes
atendimentos Apesar das divergências teóricas e metodológicas que podiam ser
observadas entre estas primeiras analistas infantis, todas concordavam quanto a
uma das dificuldades básicas deste empreendimento. Se a psicanálise acontecia
na dimensão significante da fala, o tratamento esbarrava com um obstáculo grave,
já que as crianças dificilmente se entregavam completamente à técnica da
associação livre. Era necessário substituir a expressão verbal por algum outro
tipo de comunicação. Coube a Melanie Klein (1934/1964) equiparar a associação
livre através da palavra, com a associação livre lúdica através do brincar e
desenhar. Como resultado, Sophie Morgenstern (1948) chegou a publicar um
atendimento realizado todo através de desenhos, com uma criança diagnosticada
com mutismo psicógeno. Como o menino não falava, ela precisou recorrer à
linguagem pictórica, para entender as mensagens comunicadas pela criança. Neste
mesmo período, em paralelo, a pedagogia começa a se libertar da rigidez do
método clássico, que defendia a reprodução exata dos modelos. Os professores passam
a empregar o desenho e os relato livres como meios para desenvolver a
personalidade da criança. Esta nova prática permite analisar os significados
simbólicos, análogos aos apresentados pelos sonhos ou pelos sintomas neuróticos.
Anzieu (1978) tentou esclarecer a diferença entre expressão
e projeção. Em relação ao desenho, ao considerar seu uso enquanto puramente
terapêutico ou catártico, lembra que com este objetivo, o desenho não se
configura como um teste. Isto porque um teste vai sempre supor uma situação
padronizada, acompanhada por uma intenção de avaliação. Como técnicas
expressivas que podem expressar a personalidade, o desenho livre, o relato
livre e o jogo dramático improvisado, bastante utilizados em procedimentos psicoterapêuticos.
Para melhor esclarecer seu ponto de vista, ele acaba recorrendo a uma distinção
feita anteriormente por Bellak e Symonds, que achamos interessante reproduzir
aqui. Para estes autores existiriam três tipos de testes:
1] Técnicas expressivas - onde o sujeito fica
inteiramente livre, não apenas em relação às instruções como também em relação
ao material proposto. Porém, ao adotar
esta posição, algumas técnicas expressivas ficam sem localização, já que para
algumas técnicas expressivas existem regras objetivas. Em relação aos desenhos
do tipo HTP, Desenho do Animal, Desenho da Escola, certos critérios são
padronizados: as instruções são as mesmas, a folha ofício é padrão, assim como
o lápis número dois, configurando um mínimo de objetividade no material. É
preciso lembrar que adaptação, expressão e projeção estão sempre
presentes quando as técnicas expressivas se referem aos desenhos. Em termos do
comportamento adaptativo, vai ser preciso considerar se frente à solicitação da
tarefa o sujeito reagiu de forma adequada, além de verificar a adequação aos
padrões de idade, sexo, grupo cultural, etc. Em relação ao comportamento
puramente expressivo, é preciso analisar o estilo particular que se prende à
produção do sujeito. Finalmente, em termos projetivos, vai ser necessário verificar
os conteúdos simbólicos atribuídos aos desenhos. Estas abordagens são
complementares, e precisam ser analisadas com cuidado.
2] Testes Projetivos - onde as respostas são livres, porém o material é definido e
padronizado. A definição aqui não se aplica ao conteúdo, e sim ao material que
é utilizado. O conteúdo deve ser vago, ambíguo e pouco estruturado. Quanto mais
indefinido for o conteúdo de uma imagem ou de uma mancha, mais certeza pode-se ter
quanto à qualidade projetiva do material obtido. Para tornar mais claro esta
definição relacionada a uma indefinição,
podemos pensar no Rorschach, onde o material utilizado é bem definido: são
pranchas com as mesmas manchas, põem onde as próprias manchas são bastante
indefinidas. Outro exemplo pode ser visto no Teste de Apercepção Tridimensional de Doris Twitchell Allen (apud
(BELL, 1978), uma espécie de Rorschach em terceira dimensão, e que se constitui
de formas geométricas vagas e pouco estruturadas, com as quais o sujeito deve
construir uma situação e uma estória. Anzieu (1978) vai subdividir os testes
projetivos em temáticos e estruturais. Entretanto, vale a pena lembrar que os
desenhos também poderiam ser posicionados dentro desta categoria, já que
oferecem uma excelente oportunidade para a projeção de sentimentos sobre os
quais o sujeito não tem um conhecimento direto, e “não quer ou não pode
revelar, isto é, aspectos mais profundos e inconscientes; isso porque, sendo um
meio menos usual de comunicação do que a linguagem, tem um conteúdo simbólico
menos reconhecido” (VAN KOLCK, 1981, p.2).
3] Testes Psicométricos - onde só existe uma resposta correta,
e onde o material requer uma precisão rigorosa.
Finalizando, as técnicas expressivas oferecem inúmeras
variações. Enquanto técnicas gráficas, os desenhos podem ser organizados de
acordo com a maior ou menor liberdade dos temas propostos. Baseando-nos nesta
exposição que fizemos, vamos sugerir uma fusão dos princípios de organização de
alguns autores. Sugerimos o agrupamento destas técnicas gráficas em quatro
categorias, obedecendo ao princípio de liberdade que se prendem aos temas e
tarefas.
1] Tarefas altamente estruturadas, e que vão ser
avaliadas de acordo com o grau de adaptação maior ou menor em relação ao modelo
proposto. Referem-se aos testes em que se propõe que o sujeito procure reproduzir
algumas figuras. Nesta categoria estariam incluídos os Testes de Bender
(CLAWSON, 1989), as Figuras Complexas de Rey (1942/1999), o próprio PMK de Mira
y Lopéz (1962/1987) ou o teste Palográfico de Minicucci (1991), ou o teste de
Vetter (GAYRAL, 1977) construído em 1939, e que consiste na cópia de figuras
geométricas elementares (quadrados, triângulos, linhas ordenadas em forma de
escada, ângulos retos, etc.)
2] Tarefas com estruturação intermediária, onde é
pedido que o sujeito complemente alguns sinais iniciais (que podem ser pontos,
linhas ou curvas). Nessa categoria inclui-se o teste de Wartegg, ou mesmo a
técnica do Rabisco de Winnicott (1984). Tendo em vista a preocupação de
Winnicott (1984) que não gostaria de ver sua técnica transformada em um método
projetivo estruturado e com regras bem estabelecidas, é importante lembrar o
quanto ele enfatizava a necessidade de flexibilidade. Nesta técnica, a
liberdade de escolha está sempre em primeiro lugar, sendo a criança livre para
escolher conversar, cantar, brincar ou desenhar (MAZZOLINI, 2007). Gayral
(1977) fala de um outro técnica intermediária, construída por Horn e
Hellersberg, e que apresenta 12 quadros com uma estimulação pictórica rica,
exigindo que criação de desenhos complexos.
3] O terceiro grupo envolve o desenho de temas
determinados. E aqui é possível localizar as inúmeras técnicas gráficas, como o
Teste da Figura Humana (MACHOVER, l974), o Teste da Árvore (KOCH, 1949/1962); o
Teste HTP (BUCK, 2003) que pede o desenho de uma Casa-Árvore-Pessoa, o Desenho
da Família de Corman (1969), o Desenho do Interior do Corpo, de Desenho do
Interior do Corpo (TAIT & ASCHER, 1955), o Desenho do Animal de Levy &
Levy (1969), o teste da Mandala de Dias (1996), o Desenho do Professor de Klepsch (1984), o teste de Fay (GAYRAL,
1977), onde é pedido o desenho de uma mulher passeando na rua, num dia de
chuva. São inúmeras as derivações destas técnicas gráficas.
4] Por último, algumas técnicas se diferenciam porque
propõe ao sujeito um tema indeterminado, tal como os Desenhos Livres, ou o
Finger-Paint. Aqui se localizam melhor o Teste das Garatujas na versão de
Meurisse (GAYRAL, 1977), ou tal como foi idealizado por Corman (1971). “Estes
desenhos livres e atemáticos oferecem uma ampla margem de liberdade para a criação
livre, utilizando como estímulo elementos que têm mais de um significado”.
(GAYRAL, 1977: 72-73). Sem a intermediação de qualquer indicação, esta produção
espontânea pode expressar vivencias e conteúdos emocionais bastante
reveladoras.
Conclusão
Independente de qual seja a classificação que se
adote, o fato é que as técnicas expressivas possibilitam o acesso a sentimentos,
idéias e afetos através da linguagem não verbal. Este tipo de comunicação vem
sendo estudada cada vez mais por diversas ciências (psicologia, antropologia,
etologia), tal a importância das mensagens que são transmitidas pelos gestos,
mímicas e movimentos do corpo. “Todo mundo tem um jeito característico de
conservar o corpo quando anda, senta ou fica em pé. Isso é tão pessoal
quanto a assinatura e, muitas vezes, parece ser uma pista de caráter bastante
digna de confiança... A postura de um homem nos fala de seu passado. A própria
conformação de seus ombros pode ser indicativa de cargas sofridas, de fúria
contida ou de timidez pessoal” (DAVIS, 1971:101). Neste sentido, todos os
testes acabam por poder capturar esta expressividade.
Talvez seja melhor acabar concluindo como Anderson e
Anderson (1967), para quem a adaptação, a projeção e a expressão, embora definidas
separadamente, raramente vão aparecer isoladas. Sempre vai existir uma relação
dinâmica entre o comportamento puramente adaptativo, o comportamento expressivo
e o comportamento projetivo. Nenhuma técnica deve ser considerada como puramente
projetiva, expressiva ou adaptativa. Cada uma delas vai ser resultado de uma combinação,
já que cada aspecto do comportamento vai aparecer em graus divergentes. O que acontece
é que, algumas técnicas possibilitam mais a projeção, enquanto outras favorecem
quase somente a expressão, como lembra Van Kolck (1981). E é exatamente por
este motivo que Mira y López (1962) preferia separar os testes expressivos dos
projetivos. Porém, se focalizamos apenas as técnicas gráficas, estas vão
oferecer um amplo panorama para a avaliação dos aspectos adaptativos,
expressivos e projetivos da personalidade.
- ABERASTURY, A. - Teoria y tecnica del psicoanalisis de niños. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1978.
- ABT, L. E.; BELLAK, L. - Psicologia proyectiva. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1967.
- AMES, L. B. – Child Rorschach responses: developmental trends from 2 to 10 years. New York: Paul B. Hoeber, Inc., 1952.
- ANASTASI, A. - Testes psicológicos - teoria e aplicação. São Paulo: Editora Herder, USP, 1967.
- ANDERSON, H. & ANDERSON, G. L. - Técnicas projetivas do diagnóstico psicológico. S.Paulo: Editora Mestre Jou, 1967.
- ANZIEU, D. - Os métodos projetivos. Rio de Janeiro: Editora Campus, l978.
- ARTAUD, A.– O teatro e seu duplo . São Paulo: Editora Max Limonad Ltda, 1984.
- BANDEIRA, Manuel - A Cinza das Horas, in Poesia e Prosa, vol. I. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, Ltda, 1958.
- BELL, J. E. - Tecnicas proyectivas - exploración de la dinámica de la personalidad - Buenos Aires: Editorial Paidós, 1951.
- BOHN, EWALD - Manual del psicodiagnostico de Rorschach. Ediciones Morata, S. A., Madrid, 1973.
o
- CLAWSON, A. - Bender infantil, manual de diagnóstico clínico - Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
·
CORMAN, L. - El test de los garabatos: exploración de la
personalidade profunda. Buenos Aires: Editorial Kapelusz, 1971.
·
CORMAN, L. (1979) - O
Teste do Desenho da Família. São Paulo: Mestre Jou.
- DARWIN, C.– A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
- DAVIS, Flora – Comunicação não verbal. São Paulo: Summus, 1979.
- EXNER, J.E. - The Rorschach: a comprehensive system - New York: John Wiley & Sons, 1974.
- FELÍCIO, J.L. - Pintura a cores e loucura: a validação do teste estilocrômico em esquizofrênicos hospitalizados. (Resumo de Dissertação de Mestrado/USP). In: - II Encontro de Técnicas de Exame Psicológico: Ensino, Pesquisa e Aplicações, 09, 1996, Anais, São Paulo: USP.
- FREUD, A.– O tratamento psicanalítico de crianças. Rio de Janeiro: Imago, 1971.
- GAYRAL, L. y otros– Tests de personalidad para la clínica psicológica. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1977.
- GROTH-MARNAT, Gary. Handbook of Psychological Assessment 3rd edition. New York: John Wiley and Sons, 1997.
- HALPERN, F. - A clinical approach to children’s Rorschach - New York: Grune & Stratton, 1953.
- HAMMER, E. F. - Tests proyectivos gráficos. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1969.
- HESÍODO - Teogonia - A Origem dos Deuses - São Paulo: Massao Ohno-Roswitha Kempf / Editores, 1981.
- HOMERO - A Ilíada (em forma narrativa). Tradução Carlos A. Nunes. Rio de Janeiro. Editora Tecnoprint (Ediouro), 1962.
- KLEIN, M.– El psicoanálisis de niños. Ediciones Hormé S.A.E., Buenos Aires : Editorial Paidós, 1964.
- KLEPSCH, M. & LOGIE L. - Crianças desenham e comunicam: uma introdução aos usos projetivos dos desenhos infantis da figura humana. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.
- KLINE, Paul. The Handbook of Psychological Testing. New York: Routledge, 1999.
·
KOCH, K. – El
test del árbol . Buenos Aires: Kapelusz, 1962.
- KOLCK, ODETTE LOURENÇÃO VAN - Técnicas de exame psicológico e suas aplicações no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 1981.
- LALAILM (2007) – Comentário sobre o solo de Anna Pavlova. Disponível em Youtube: http://www.youtube.com/comment_servlet?all_comments&v=R3kPxWUbU50&fromurl=/watch%3Fv%3DR3kPxWUbU50. Acesso em 13 ago. 2008
- LIMA, J.C.C. - A localização da subjetividade: internalismo e externalismo em Melanie Klein e Winnicott. Dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2004.
- MACHADO-DE-ASSIS, J. M.– Dom Casmurro, Obras Completas de Machado de Assis. São Paulo: W.M.Jackson Inc. Editores, 1955.
- MACHOVER, K. - Proyección de la personalidad en el dibujo de la figura humana. Colombia: Ediciones Cultural, l974.
- MAZZOLINI, B. P. M. - Rabiscando para ser: do si mesmo para o papel. Revista Imaginario, São Paulo, jun. 2007.
- MINICUCCI, A.– Teste Palográfico: Manual. Vetor Editora Psicológico-Pedagógica Ltda., 1991.
- MIRA Y LOPÉZ, E. - Psicodiagnóstico Miokinetico. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1962.
- MIRA Y LOPÉZ, E. - Ilustraciones del Manual. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1962.
- MIRA, A. M. G. - PMK, psicodiagnóstico miocinético. Vol I e II . São Paulo: Vetor, Editora Psico-Pedagótica Ltda., 1987.
- MORAGAS, J.– La Expressividad Humana. Barcelona: Labor, 1965.
- MORGENSTERN, S. - El simbolismo y el valor psicanalítico de los dibujos infantiles - Revista de Psicanálisis, APA. tomo V, No 3, Buenos Aires, p. 760-770, 1948.
- MORGENSTERN, S. - Un caso de mutismo psicogeno - Revista de Psicanálisis , APA, tomo V, No. 3, Buenos Aires, p. 77l-806, 1948.
- PAVLOVA, A – Solo de “A Morte do Cisne”, um dos movimentos da peça O Carnaval dos Animais de Camille Saint-Saens, Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=R3kPxWUbU50. Acessado em: 13/08/2008.
- PROGRAMAS E RESUMOS - II Encontro de Técnicas de Exame Psicológico: Ensino, Pesquisa e Aplicações, São Paulo: USP, set. 1996.
- REY, A.– Figuras complexas de Rey – teste de cópia e reprodução de memória de figuras geométricas complexas: manual. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
- REYNOLDS, Cecil R.Comprehensive Clinical Psychology, Volume 4: Assessment. Amsterdam: Elsevier, 1998.
- ROCHA-PINTO, E - A ética perversa de “Álbum de Família” : leitura psicanalítica de uma peça de Nelson Rodrigues. 1995 302 f. (Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade) - Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1995.
- SCHEEFFER, R. - Introdução aos testes psicológicos - Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1962.
·
TAIT JR.,
C. D. & ASCHER, R, C. - Inside-of-the-body test
– a preliminary report. Psychosomatic
Medicine 17:139-148, 1955.
- VAN KOLCK, O. L. - Testes projetivos gráficos no diagnóstico psicológico. São Paulo: Editora EPU, 1984.
- WEIL, P. - Manual de psicologia aplicada. Rio de Janeiro: Editora Itatiaia, 1967.
- WINNICOTT, D. W. - Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil . Rio de Janeiro: Editora Imago, 1984.
- WOLFF, W. - The expression of personality. New York: Harper, 1943.