Vivemos
numa sociedade altamente competitiva onde o consumo é incentivado como
decorrência de interesses capitalistas que giram em torno de uma produtividade
acelerada. O comentário feito por Birman (1997:10) continua valendo até hoje em
relação à bebidas alcoólicas: “Existe, assim, interesses imensos e
incalculáveis inscritos nos circuitos da produção, da circulação, da
distribuição e do consumo das drogas”.
Esse panorama convive com alguns ideais que celebram a felicidade e a
evitação da dor. Não estamos aqui fazendo a apologia do sofrimento. No entanto,
basta ver como alguns problemas humanos foram patologizados em decorrência dos
interesses das indústrias farmacêuticas. Assim, aquilo que antigamente era
vivido como uma tristeza ou luto normal diante da perda de uma pessoa querida,
hoje é combatido com novos medicamentos antidepressivos, ao estilo do Prozac.
Se antigamente uma pessoa era tímida, agora ela sofre de ansiedade
caracterizada como “fobia social”. Frente a esse panorama, Basaglia (1980)
pensa que desta forma algumas questões humanas importantes são evitadas,
reprimidas ou negadas. E, como as necessidades não podem desaparecer sem criar
frustrações, elas são substituídas pelo consumo exagerado e pela busca por
vezes frenética de felicidade e bem estar, através do recurso às drogas. É
preciso lembrar que este consumo tem raízes sociais, sendo sistematicamente
reproduzido pela mídia.
Os
anúncios de bebidas se multiplicam. Num esquema de feroz competitividade, as
diferentes marcas brigam pelo mercado através de verdadeiras obras primas de
propaganda. Algumas são tão virulentas, que o Ministério da Saúde se vê
compelido a tirá-las do ar. Um exemplo foi a interferência do CONAR (Conselho
de Autorregulamentação Publicitária) proibindo a campanha da cerveja Devassa,
feita por Paris Hilton. Outro exemplo recente foi a proibição do samba cantado
por Zeca Pagodinho – cantor popular de grande sucesso – em que a letra apela
para valores que calam fundo na alma do brasileiro. Ao ritmo de um samba
contagiante, escutou-se um novo perfil atribuído ao cidadão trabalhador: “ser
guerreiro”, “ser brasileiro” e “ser brahmeiro”. Embutida está a mensagem para
as mentes e corações dos adolescentes: “para ser um adulto que saiba enfrentar
obstáculos e ser um bom brasileiro você tem que aprender a beber” .
Na
esteira do que ocorreu em relação ao tabaco, as novas regras do Ministério da
Saúde passaram a exigir a presença de avisos de cautela nos anúncios de
bebidas. Entretanto o mantra “beba com moderação” é silencioso, e causa muito
pouco impacto se comparado com a capacidade de contaminação e sugestão que a
festa provoca nas mentes de quem recebe a mensagem veiculada na propaganda.
Principalmente quando o incentivo à festa vem defendido por figuras públicas de
alto apelo popular, como Ivete Sangalo, ou mesmo Dunga, técnico da Seleção
Brasileira.
Diante
desta realidade, é impossível não se preocupar com a questão da prevenção
primária. O desenvolvimento de ações que procurem deter o processo de
crescimento do uso, e do abuso de drogas (lícitas e ilícitas) entre os
adolescentes é de fundamental importância. A escola, segundo pesquisa realizada
pela Secretaria Especial de Prevenção do Abuso de Drogas (RJ), é o segundo
segmento de maior credibilidade junto aos jovens, sendo o primeiro a família. A
ação preventiva pode tornar-se mais eficaz, se existir uma solidariedade de
objetivos por parte das pessoas que constituem o meio ambiente no qual está
inserida o adolescente. Dentro desta perspectiva, a escola se encontra diante
de um grande desafio, pois é preciso ocorrer uma mudança de paradigmas, e focar
na “educação para a prevenção” organizando as disciplinas de forma transversal,
onde cada matéria tenha cruzamentos com a temática das drogas. O posicionamento
de cada professor como um agente da prevenção, parece ser uma das melhores
alternativas para o enfrentamento do consumo de drogas entre os adolescentes.
Dentro
desta mesma linha de pensamento, a ação conjunta da família aliada à escola com
certeza pode potencializar os fatores de proteção dos adolescentes, contra o
abuso de substâncias psicotrópicas. Por
isto é que uma das principais metas deste projeto, embora difícil de alcançar,
visa trabalhar também com o modelo de modificação das condições de ensino,
através de acesso às reuniões de professores. O objetivo é poder colaborar para
a implementação de uma transversalidade das disciplinas, onde a prevenção ao
consumo de drogas esteja sempre presente. Além disto, outra meta a ser atingida
é a organização de uma equipe preventiva composta por pais, professores,
funcionários e alunos, que possa continuar funcionando após o projeto migrar
para outras escolas.