Há vários anos o álcool
vem mantendo o primeiro lugar
nos índices
de consumo entre as substâncias psicoativas. E esta posição se deve em parte à
virtude das propagandas.
Em geral, as empresas de marketing prestam assessoria de
alta qualidade não apenas aos setores produtivos, como também aos
estabelecimentos comerciais que criam novos espaços para atrair a população de
jovens e de trabalhadores. Como ilustração, o Rio de Janeiro, na década de 1980,
assistiu a inauguração da Academia da
Cachaça, “criada com o objetivo de
ser uma casa onde fosse possível conhecer as diferentes variações de cachaça
produzidas no Brasil”, conforme é possível ler em seu site. A idéia de uma
formação acadêmica em bebidas alcoólicas se ampliou, no início dos anos 1990,
com a abertura das Universidades do Chope.
Já o consumo dos trabalhadores foi sensibilizado, através da abertura dos
diversos Sindicatos do Chope, cadeia
de bares próprios para o consumo, que se espalharam pela cidade (de Copacabana
ao Leblon, do Leme à Tijuca), e que recomendam medidas específicas “para agüentar o tranco do consumo alcoólico”
(VEJA-RIO, 1992:1). A abertura destas megachoperias elevou o consumo do
carioca. Segundo Marcos Mesquita, presidente do Sindicerv (Sindicato da
Indústria de Cerveja), o Rio de Janeiro é responsável pelo maior consumo per capita no Brasil, atingindo o total
de 90 litros/ano, acima da média nacional, contra uma média que girava em torno
de 49 litros
na década de 1970 (BRISOLLA, 2006).
No século XX houve um crescimento constante da produção e
do consumo das bebidas alcoólicas. Elas se multiplicaram através de diferentes
marcas, gerando inclusive híbridos como o Ice,
misturas de sucos de frutas ou de refrigerantes (de limão ou laranja) com
bebidas destiladas (como vodka), cujo teor alcoólico é ligeiramente superior ao
das cervejas, e cujo foco é o adolescente. Simultaneamente, a sociedade de
consumo necessita colocar no mercado seus produtos. O Ice é um dos fortes patrocinadores do Big Brother, um programa que é líder de audiência entre os
adolescentes brasileiros. De um modo geral, as bebidas alcoólicas ocupam lugar
de destaque na publicidade, o que gera um círculo vicioso, pois leva o consumo
também a se destacar.
No entanto, dependendo da época, dos costumes, e dos
valores em jogo, o consumo do álcool, mesmo quando intenso, não chega a se
constituir como problema.
No Brasil, a propaganda de bebidas alcoólicas é
regulamentada pelo CONAR (Conselho Nacional de Auto-regulamentação
Publicitária), que as distingue em três categorias: bebidas destiladas,
cervejas e vinhos, e bebidas ices (PINSKY
& JUNDI, 2008). A propaganda da cerveja que tem um teor alcoólico 5% menor
que o do vinho (12 a 14%) e da cachaça (40% a 45%) é liberada para o horário
nobre da televisão, beneficiando-se da complacência da legislação brasileira. O
problema, porém, além dos teores de álcool de qualquer bebida, são as doses que
a pessoa ingere.
Segundo recentes pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), “o consumo
de cerveja triplicou no período de 1979 a 2000, passando da 41ª. posição na
lista dos produtos mais vendidos, para a 4ª. posição” (LIMA, 2003:11). Ou seja, o Brasil tem um lugar de
destaque mundial, sendo o quarto maior produtor e consumidor de cervejas do
mundo (LIMA, 2007). O país produz mais de 10 bilhões de litros de cerveja por
ano, além de ocupar o primeiro lugar na produção mundial da cachaça, alcançando
uma produção em torno de 1,5 bilhão litro/ano. E, como essa produção deve ser
comercializada, antes dirigido aos homens, agora o marketing anda mostrando interesse específico pela população
feminina. Atualmente existem propagandas que focalizam mesas de bar
constituídas somente por mulheres, que conversam enquanto consomem bebidas.
Para referência: Este texto é parte da tese de Doutorado, "Alcoolismo Feminino: Conhecer para Prevenir", defendida em 2006, no programa de Saúde da Criança e da Mulher, no Instituto Fernandes Figueira, FIOCRUZ/RJ