quarta-feira, 13 de março de 2013

O Conceito de Expressão e os Testes Expressivos



                                  Conceito de Expressão e Testes Expressivos

Elza Rocha Pinto


Introdução
Consultando diversas contribuições que ao longo dos anos foram se somando para um melhor posicionamento dos testes de personalidade, verificamos que o conceito de testes expressivos acabou se perdendo, absorvido pela categoria da projeção.
Na verdade, na maioria dos textos clássicos sobre testes, o conceito de expressão foi relegado a um segundo plano, merecendo ocasionalmente referências passageiras. Isto permitiu o predomínio do termo projeção, definido pela teoria psicanalítica.
Pensando em colaborar para uma melhor fundamentação teórica destas técnicas, procuramos focalizar neste artigo o conceito de expressão, contrapondo-o inclusive ao de projeção, para em seguida verificar como alguns autores se posicionaram em relação aos testes expressivos.
A expressão na História
A capacidade expressiva sempre chamou a atenção dos homens, tendo sido registrada inúmeras vezes pelos mestres da palavra através de metáforas encantadoras. Quem não se lembra, por exemplo, da ressaca nos olhos de Capitú, envolvendo e arrastando infinitamente seu namorado? Através desta forte imagem expressiva, Machado de Assis (1899/1955) conseguiu comunicar todo o maravilhoso e perigoso jogo de sedução da bela adolescente, em D. Casmurro.
Na verdade, a história da expressividade é bastante antiga. Inicia-se de forma sistematizada com os estudos da mímica e dos gestos, com os gregos. Porém, mesmo anteriormente, os poetas já se encantavam com os movimentos expressivos, procurando descrevê-los em seus versos. É possível encontrar tímidas referências às interioridades de alguns deuses até mesmo na arcaica concepção de linguagem com a qual Hesíodo (século VIII a.C./1981), construiu seu discurso sobre a experiência do sagrado, ao contar a origem do universo. Através de seus versos ficamos sabendo que os tios paternos de Zeus, Trovão e Relâmpago, possuíam um violento ânimo. E, antes dele, Homero permitia que seus heróis expressassem sentimentos e afetos. Segundo este poeta, quando o poderoso Agamenon se enfurecia, seus olhos tinham o poder de expressar este estado interior. Assim aconteceu quando o inquieto general se zangou diante da revelação de que ele teria sido o causador da maldição da peste que Apolo lançara sobre os aqueus. Neste momento, o heróico átrida levantou-se furioso, “tinha o negro coração repleto de ira e seus olhos flamejavam como o fogo” (HOMERO, sec. VIII a.C/1962: p.12). Descrições tão expressivas quanto essas podem ser encontradas em diferentes personagens da Ilíada e da Odisséia. Para o poeta, a expressividade fisionômica e corporal dos heróis era apenas um reflexo do Olimpo, onde os deuses também se comunicavam através de gestos e puros movimentos. Assim Zeus, com um simples inclinar de cabeça, selava um compromisso assumido. Entre as grandes divindades, Atenéia era a deusa dos olhos brilhantes, os quais expressavam desta forma a luz de sua sabedoria e de seu conhecimento.
Contrapondo-se à poesia épica, o gênero lírico vai preferir tematizar “o aqui e agora, os sentimentos, atitudes e valores individuais do poeta” (TORRANO, 1995:12). As Musas (filhas de Zeus e de Mnemósyne), através de seus cantos e danças expressavam verdades e mentiras, como elas comunicaram a Hesíodo, quando permitiram seu canto da Teogonia sobre a origem dos deuses: “Sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos, e sabemos se queremos, dar a ouvir revelações" (HESÍODO, século VIII a.C./1995:88). É possível supor que as Musas estão falando sobre as ficções que vão inspirar ao poeta, através das quais ele expressa sua versão subjetiva sobre a realidade. A história romanceada é uma ficção, porém semelhantes aos fatos. São as mentiras que o poeta cria, por inspiração das Musas. A literatura vai produzindo minuciosas descrições da fisionomia dos personagens, através das quais eles revelam suas maneiras de pensar e sentir, seus desejos e emoções.
No domínio das artes plásticas, o artista sempre buscou captar o interior do homem, através da expressão do rosto, ou dos gestos.  Leonardo da Vinci era um mestre nesta captura das paixões humanas através dos traços expressivos da fisionomia. Por isto o sorriso de Mona Lisa (1503-1506) continua exercendo um fascínio que gera interpretações variadas sobre seu significado.
Nas pinturas e desenhos, o movimento expressivo é um registro direto das emoções. Quem pinta ou desenha consegue expressar seus sentimentos através dos traços firmes ou frágeis, da textura das cores (grossa ou fina), da escolha das tonalidades, e inclusive através da organização formal de todos os elementos gráficos (como distância, perspectiva, altura e outras marcas) que o traço vai deixando na tela ou no papel. Emoção e razão são realidades diversas que podem gerar contradições interessantes nos desenhos, e em outras manifestações artísticas.

Van Gogh – O Semeador (1988)

Assim, por exemplo, a importância de um objeto vai ganhar expressão através de seu tamanho por relação a outros elementos do ambiente que não são significativos. Nos desenhos pré-históricos encontram-se animais que são muito maiores que os caçadores, com isto expressando um conjunto de sentimentos: medo da agressividade do animal, importância da caça para a sobrevivência do grupo, valorização da ação heróica através de um combate onde foi necessário enfrentar um oponente muito mais forte. Nos desenhos de Van Gogh, as representações do sol mostram o quanto sua luz e brilho eram importantes para este pintor. Nos desenhos infantis, a casa de uma criança pode ter o mesmo tamanho de uma pessoa que está do lado de fora, indicando o mesmo grau de importância para ela. Estes exemplos mostram como os elementos expressivos podem desorganizar a representação da realidade, para tornar clara uma mensagem. A distorção das percepções pode ser vista em muitas obras de arte, como nas estranhas figuras retratadas por Picasso, ou nas inversões do espaço provocadas por Baselitz. Suas pinturas procuram se opor ao domínio de algumas tendências, como a abstração, o serialismo, o minimalismo e o conceitual. Ele vai se filiar ao figurativismo, porém procurando uma forma de expressar uma linguagem sem os constrangimentos da técnica, estética ou do gosto comum. Ele procurou um modo original de retomar o processo de percepção. A partir da década de 60, Baselitz cria um estilo pessoal, através da inversão da imagem. Apesar das imagens serem reconhecíveis, o mundo vira de cabeça para baixo. As condições de percepção não são mais normais. Da mesma forma Picasso, ao retratar simultaneamente a perspectiva frontal e lateral de uma pessoa, liberta uma nova forma de ver o mundo. A multiplicidade perceptiva faz parte do real. Os critérios expressivos podem romper os conceitos clássicos de espaço e de tempo. As seqüências dos temas seguem um tempo flexível e inconstante, que tanto podem expressar a duração como o instante. Os espaços podem ampliar ou encolher, imprimindo maior intensidade aos desenhos, ou em outras formas de expressão, como na escultura ou no cinema.
Tanto quanto os pintores, os escultores também sabem o quanto o gesto ou uma pose podem significar. Rodin emociona seu público com esculturas profundamente expressivas, onde o movimento se mantém como tônica principal. O Homem que Cai (1882) é extremamente tocante, com seu pé que quase chega a flutuar sobre o chão. Nas várias esculturas sobre Balzac, o que conta é justamente a expressão que é possível ver na face deste escritor. Desesperada, a Musa Trágica (1890-96) nem precisa de palavras para transmitir tanta dor. E quem pode esquecer a beleza do Filho Pródigo (1885-7), cujos braços arremessados para o alto transmitem toda a intensidade de sentimentos complexos, que misturam inquietação, tensão e nervosismo com uma esfuziante alegria. Somente com gestos e movimentos, o bronze do escultor conseguiu capturar uma enorme riqueza de emoções, sem necessitar de palavras.
A arte dramática pode ser definida como essencialmente expressiva. No teatro, com a plasticidade de sua postura corporal, o ator vai procurar enfatizar o sentido da palavra, a intenção da frase. Cada meio de comunicação enfatiza diferentes formas de expressão. O gesto varia conforme o contexto, mas o objetivo é sempre a expressão das idéias e dos sentimentos. Na televisão, o ator procura focalizar sua expressão da cintura para cima, priorizando o rosto, onde as silenciosas nuances dos movimentos fisionômicos transmitem diferentes mensagens. No cinema, as ações e movimentos ganham uma dimensão maior, através dos zooms e dos flash-backs, que ampliam a capacidade expressiva dos atores.
A dança é pura expressão. Ou, como diria Artaud (1984), poesia em movimento. Através da intensidade emprestada a seus gestos, a bailarina transmite a dor de um amor não correspondido. Ela é capaz de fazer o público entender a dramática dimensão de sua paixão através dos sedutores movimentos de seu corpo. A expressividade do solo A Morte do Cisne, que Anna Pavlova dançou em 1905 é tão intensa, que até hoje ela consegue comover as pessoas que assistem sua interpretação, imortalizada na Internet. E sem a necessidade de dizer uma só palavra. Como disse um espectador: “Este vídeo é quase um poema, você pode sentir a mágica que ela está transmitindo” (Lalailm, 2007).
Com a passagem dos séculos, foi sendo escrito um longo tratado sobre a capacidade de expressão não verbal, para o qual várias pessoas colaboraram. Com obras, desenhos e pinturas, porém também com reflexões escritas em textos, como Leonardo da Vinci fez, na Renascença. Porém foi durante o século XVIII que o estudo sobre a expressão se tornou mais sistematizado. Ao publicar seu livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, onde defendia a funcionalidade da expressão das emoções, Darwin (1972/2000) acabou fornecendo os fundamentos básicos para o desdobramento de outros estudos. O positivismo também colaborou, ao fornecer fundamentos físicos mais rigorosos para o estudo da expressividade humana. 
No campo da psicologia, depois que ela se afirmou como uma área do conhecimento independente da filosofia, surgiram contribuições importantes. Em 1933, Allport e Vernon, nos Estudos sobre o Movimento Expressivo, definem o termo como "aquele aspecto do movimento que tem traços suficientemente distintos para diferenciar um indivíduo de outro" (apud BELL, 1951: 243). Segundo estes autores, a avaliação da personalidade poderia ser realizada em três diferentes dimensões. A primeira delas compreenderia traços, atitudes, interesses ou sentimentos que estruturam o interior da personalidade; a segunda seria a dimensão da expressão e do comportamento. Finalmente, a terceira compreenderia a percepção e a interpretação do comportamento pelo outro. Para eles, o comportamento expressivo continha aspectos do movimento peculiares, com isto diferenciando as pessoas. Os movimentos e gestos expressivos refletiriam o estilo individual de cada um, o qual é relativamente estável. Além disto, existiria uma correspondência entre estes comportamentos expressivos e outras disposições da personalidade, como traços, atitudes e valores. Estava aberto o caminho para as técnicas expressivas, já que a observação e análise das expressões passava a ser uma via de acesso para o estudo da personalidade.  
Entre 1914 e 1940 os psicólogos realizaram diversos estudos das expressões faciais, procurando compreender melhor a linguagem não-verbal. Entretanto suas pesquisas não chegaram a contribuir para qualquer sistematização do conceito de expressão. Tais estudos podem ser encontradas em Wolff (apud BELL, 1951), ou em Moragas (1965). Em 1943 Wolff publica A Expressão da Personalidade, onde expõe alguns pesquisas experimentais sobre os movimentos, focalizando várias expressões corporais não verbais, inclusive a escrita. Ele procurava relacionar os movimentos do corpo com a dinâmica inconsciente, apoiando-se teoricamente na psicologia da Gestalt e na psicanálise.  Mais recentemente, Jerônimo de Moragas (1965), defende sua tese, A Expressividade Humana. A fisiognomonia procura reconhecer as características de personalidade através de suas expressões faciais O rosto revela mensagens que nem sempre a pessoa queria comunicar.
O apoio destes estudos permite entender que o comportamento expressivo vai denotar a capacidade de manifestar sentimentos e pensamentos através de um signo sensível. O signo tanto pode ser uma palavra ou frase, como um movimento corporal, uma expressão do rosto, uma atitude do corpo, um gesto da mão, nuances da voz, ou a realização de um desenho no papel. Numa primeira abordagem, seria possível pensar que a comunicação verbal (palavra ou frase) estaria a serviço daquilo que uma pessoa pensa, dos juízos que ela desenvolve sobre o mundo, enquanto que os movimentos e os gestos serviriam para emprestar sentimentos e afetos a estas mensagens.
A linguagem corporal é anterior à fala.  Partindo deste pressuposto, Entendendo perfeitamente este fato, e querendo impactar seu público, Artaud briga com o texto. Ele procura enfatizar os aspectos expressivos da cena dramática, e articula um teatro que explode em cores, luzes, sons e movimentos.  Esta nova plasticidade acaba revolucionando as clássicas montagens teatrais organizadas em um comportado palco italiano, criando admirações, alegrias, desejos e espantos. O teatro de Artaud era poesia em movimento. Moragas (1965), lembra que a primeira palavra da criança não é um substantivo, mas uma interjeição com a qual manifesta uma admiração, uma alegria, um espanto, um desejo. 
No entanto, é importante não esquecer que a palavra também tem o dom de expressar sentimentos, independente de seus significados mais concretos. Porém, para além do significado metafórico ou gramatical, é preciso lembrar que o contexto de uma frase pode mudar inteiramente, conforme o tom da voz e nuances que vão enfatizar certas palavras. Hammer (1969), no seu capítulo sobre os componentes expressivos dos desenhos, procurando diferenciá-los do conteúdo propriamente dito, oferece um bom exemplo da variação de sentidos que as mesmas palavras podem apresentar. Da mesma forma como a palavra é um significante vazio, que ganha seu sentido conforme a frase onde surge, esta mesma frase vai ganhar significado conforme a intenção do sujeito, sublinhada a partir dos elementos expressivos de seus gestos e movimentos.
Podemos dizer que a mesma coisa acontece em relação às técnicas gráficas. Por isto, para compreender um desenho, para além do seu conteúdo, é necessário ouvir a entonação dada pelas diferentes ênfases atribuída às imagens pelas nuances dos traçados, das cores, das sombras, perspectivas, proporções e outros elementos expressivos.
Voltando à relação entre os gestos e palavras, e avançando um pouco mais em nossa análise, vamos ver que os movimentos apresentam uma dupla dimensão.
Eles não apontam apenas para as emoções da pessoa. Além de denunciarem nossos estados afetivos, eles também revelam idéias e pensamentos. Existem determinados gestos que até por convenção indicam aquilo que uma pessoa está pensando. Quando um juiz, em um tribunal, bate seu martelo no meio do burburinho que toma conta da assistência, ele está exigindo ordem e silêncio; ou quando um soldado bate continência, ele está expressando obediência e respeito diante de um superior. Por isto podemos concordar com Moragas quando ele usa o termo expressão e expressividade como sendo a capacidade de manifestar pensamentos e sentimentos por meio dos movimentos do nosso corpo.
Partindo desta definição, o que seriam, então, as técnicas expressivas? Seriam aquelas que procurariam "investigar as características da personalidade por meio das ações e padrões dos movimentos corporais e do ritmo" (SCHEEFFER, 1962). Alguns movimentos escapam ao controle consciente. Por isto, a expressão corporal pode denunciar aquilo que se quer esconder. O tremor do papel na mão do orador delata seu nervosismo diante de seus ouvintes. Aquilo que se vê às vezes é mais importante do que aquilo que é dito. E é isto que leva Davis, uma estudiosa da comunicação não verbal, a afirmar:
De certa forma, me foi uma liberação perceber o quanto as minhas emoções sempre estiveram à mostra. Saber que, graças à intuição, as pessoas haviam-me compreendido muito além daquilo que eu fora capaz de lhes dizer, em palavras, sobre como eu me sentia, sobre o que realmente eu queria dizer, sobre como estava eu reagindo (DAVIS, 1979:16).
Durante muito tempo os antropólogos concordaram em que os movimentos do corpo não se davam ao acaso, e que eles podiam ser tão legíveis quanto qualquer linguagem. Os estudos para deciframento deste código corporal só começou a serem desenvolvidos na segunda metade do século XX.
Os Testes Expressivos
John E. Bell (1951) mostra como os testes expressivos vão surgir. O estudo da personalidade vai sendo feito através de determinadas atividades. Por exemplo, o emparelhamento “das expressões faciais de quadros e silhuetas com traços de personalidade, das expressões faciais com o estilo literário e artístico, e do caráter da letra com retratos, rubricas e sexo” ou experimentos que investigam “as características da letra, o modo de andar, o porte, e o gesto” (BELL, 1951:244). Estes estudos contribuíram muito para a construção das técnicas expressivas. Porém, só com Mira y López (1962) o estudo dos movimentos expressivos se dirigiu à aplicação prática, através da interpretação da personalidade em situações clínicas.
Werner Wolff (apud BELL, 1951), um dos pioneiros da psicologia expressiva, realizou uma distinção interessante que vai ser retomada depois por diversos autores. Ele diferencia três tipos de comportamento:
a] Comportamento adaptativo - determinado pela realidade externa. Diante das técnicas de avaliação da personalidade, este aspecto adaptativo é delineado pelo estímulo externo, que nesta situação configura não apenas o próprio material do teste, como as instruções para a realização da tarefa. O significado do material é bem definido, claro, convencional e preciso. E desta forma o sujeito pode responder com facilidade às exigências desta realidade externa, que no caso é a situação da avaliação através do teste.
Existem dois planos através do qual a adaptação à realidade pode ser avaliada através do comportamento do sujeito quando realiza o teste. Em primeiro lugar, através da própria reação à situação. Existem diferentes tipos de reação a uma situação de avaliação. Por exemplo, o sujeito pode atender ou não ao pedido do examinador. Diante da prancha do Rorschach, ele pode associar livremente, ou pode recusar a prancha, ou mesmo utilizar a prancha para brincar, como se ela fosse uma espécie de tamborim. Estes dois últimos comportamentos não seriam adaptativos. Se, diante do pedido de relato livre para o CAT, uma criança começar a acrescentar na sua estória personagens e objetos que não existem na imagem, embora ela esteja atendendo à demanda do examinador, seu comportamento também não estará sendo totalmente adaptativo.
Em segundo lugar, o comportamento adaptativo pode ser deduzido através do conteúdo produzido. Aqui, as normas de grupo fornecem subsídios para a compreensão do tipo de adaptação à realidade que se apresenta em um determinado sujeito. Como então seria possível determinar a adequação do ajustamento do indivíduo, pergunta-se Ames (1953) logo na introdução de seu livro sobre o Rorschach infantil:
Os fatores essenciais em tal avaliação parecem ser a adequação do comportamento, tanto para o próprio indivíduo, como para as circunstâncias externas às quais ele está reagindo. Colocado de um modo diferente, o bom ajustamento é uma função da consistência interna e externa. As reações do sujeito precisam ser adequadas à natureza do ambiente externo e à natureza de seu estado interior. O produto final, ou seja, a resposta ou reação, torna-se assim uma integração destas duas condições, externa e interna (AMES, 1953:5).
Por meio de alguns aspectos da análise formal é possível fazer a avaliação desta integração, considerando-se também a adequação do comportamento do indivíduo em relação à sua norma. No Rorschach existem tabelas normativas como a de Halpern (1952), ou de Ames (1953), que permitem a comparação de dados, como a proporção dos conteúdos animal, e das porcentagens das respostas F, F+, etc.
As pranchas dos testes temáticos variam seus conteúdos normativos. Em alguns deles, mais estudados - TAT, CAT -, chegou-se a levantar quais os significados temáticos seriam mais frequentemente atribuídos às imagens. Assim, se um adolescente, diante da imagem de um menino com um violino, começa a descrever as viagens espaciais de um personagem biomecânico extraterrestre, certamente ele não se comportando do modo pelo qual a maioria dos sujeitos de sua idade reage. Seu comportamento não é adaptativo.
b] Comportamento projetivo - através do qual o indivíduo atribui ao mundo externo necessidades, características, idéias, desejos, qualidades e defeitos que são seus. Este material pode ter o caráter consciente ou inconsciente. Em “A Ética Perversa de Álbum de Família” (Rocha-Pinto, 1995), tivemos ocasião de examinar melhor esta questão. Sobre este tema, existem diversos trabalhos, como os clássicos textos de Anzieu (1978) sobre os diversos sentidos do conceito de projeção dentro da obra freudiana, ou o texto de Bell (1951) que inclui no significado do conceito também os conteúdos conscientes. Recentemente, Lima (2004) examinou algumas diferenças em relação à projeção, que podem ser encontradas entre os modelos teóricos da psicanálise. Neste artigo apenas vale lembrar que quanto mais estruturada for uma situação, menor a possibilidade da ocorrência deste tipo de comportamento. As projeções tendem a ocorrer com mais freqüência diante de estímulos ambíguos e mal definidos. Os relatos das experiências gestaltistas não deixam dúvidas quanto a isto (ABT & BELLAK, 1967). Por outro lado, as técnicas projetivas supõem que “o sujeito organiza os acontecimentos em função de suas próprias motivações, percepções, atitudes, idéias, emoções e de todos os outros aspectos de sua personalidade” (BELL, 1951:20).
 c] Comportamento expressivo – O comportamento expressivo de uma pessoa consiste no estilo de suas respostas. Diante de uma mesma situação as pessoas apresentam comportamentos diferentes. Cada avaliação é feita levando-se em consideração a maneira característica do indivíduo. Cada sujeito maneja e organiza o material de modo diverso. Assim, na interpretação, valoriza-se o elemento pessoal que se destaca na diversidade dos comportamentos. Os padrões de movimentos, gestos, e ritmos de cada sujeito variam consideravelmente. Esta peculiaridade das respostas expressa qualidades que distinguem as pessoas.
    Para chegar às motivações básicas, a análise da expressão em primeiro lugar deve levar em consideração o modo do comportamento. A mesma tarefa, executada por diferentes pessoas, vai mostrar muitas variações, que podem se relacionar com a abordagem inicial, com os métodos utilizados, com a organização do trabalho, ou com os resultados finais.
    É possível dizer que testes expressivos são todos aqueles métodos ou técnicas que permitem que o conhecimento do sujeito possa ser realizado a partir do estilo de sua obra.
Estilo, eis a palavra chave, que acompanha o conceito de expressão. O estilo define um modo de ser. O comportamento expressivo gera um estilo, que se impregna tanto na obra do artista, quanto nas produções que se originam a partir dos métodos e técnicas de avaliação da personalidade. O padrão das ações, dos gestos, do ritmo, das diversas entonações de sua linguagem não verbal, acabam por envolver o conteúdo produzido pelo sujeito, que acaba revelando sua personalidade a partir de seu estilo.
Isto torna a situação dos testes de personalidade mais complexa. Porque se o estilo define um modo de ser, este pode se expressar em qualquer situação. Até mesmo diante de estímulos mais definidos, como nos testes objetivos. A postura do sujeito ao se sentar, a forma pela qual ele segura o lápis, a pressão que fica impressa no papel quando o sujeito risca suas opções, todos estes comportamentos são signos que podem revelar muita coisa a respeito do sujeito.  Podem indicar segurança, timidez, arrogância, agressividade ou impaciência.  O estilo se revela através das coisas mais simples de nossa vida diária, como no gesto de escolher uma roupa entre tantas outras expostas numa vitrine. A pessoa pode procurar roupas mais simples, sem tantos detalhes com cores neutras, ou pode preferir uma roupa mais incrementada, bem colorida e que valorize suas formas. A primeira escolha marcaria uma atitude de maior recolhimento, de timidez ou flexão para dentro de si mesmo. A segunda escolha apontaria para uma atitude estilística onde se enfatiza a beleza exterior, onde a aparência pode ser um valor, onde a extroversão fica marcada pelo colorido e na exposição plástica do corpo. Os movimentos expressivos, sejam eles amplos (como nas situações da vida cotidina), ou mais limitados (como na reação frente a um teste) sempre trazem mensagens e significados. E, nas situações de avaliação, oferecem um rico potencial diagnóstico.
A expressão, sendo uma característica humana, vai caracterizar qualquer comportamento do sujeito. Hammer (1969) resume esta questão:
A rigor, pode-se afirmar com segurança que todo ato, expressão ou resposta de um indivíduo - seus gestos, percepções, sentimentos, eleições, verbalizações ou atos motores - de algum modo levam a marca de sua personalidade. Hammer (1969).
Assim, qualquer atitude do sujeito diante das tarefas propostas podem revelar sua personalidade. Ao fazer um teste, o sujeito pode mostrar uma atitude de colaboração ou de contrariedade, manifestar alegria ou irritação, fazer sua tarefa em silêncio ou tagarelando sem parar de forma ansiosa. Pode mostrar-se em dúvida sobre o que está fazendo, ou ter uma atitude calma e confiante, ou mesmo não ligar para as opiniões dos outros. Seus movimentos corporais, sua linguagem não verbal pode expressar sentimentos e emoções que o sujeito não gostaria de revelar. É neste sentido que, ao sistematizar os métodos expressivos, Weil (1967) relaciona diversas técnicas que incluem inclusive medidas de reações fisiológicas (respiratórias, circulatórias, metabólicas, etc.), e que Bernstein (in BELL, 1978) destaca entre as técnicas gráficos, os testes grafológicos, além dos movimentos expressivos do teste de Mira y López, e dos desenhos.   

Classificação dos Testes Expressivos
As tentativas de classificação dos testes como expressivos ou projetivos acabam gerando ambigüidades. É importante lembrar que a tarefa de organizar os métodos e técnicas de avaliação em categorias tem apenas objetivos didáticos. Uma classificação sistemática vai ser sempre artificial, se não for impossível, já que sempre será possível distribuir estes testes em outras categorias. Por isto encontramos divergências acentuadas entre os diferentes autores. Vamos procurar fazer uma abordagem rápida sobre algumas destas diferenças.
John Bell (1951), no mesmo capítulo aborda técnicas bastante diferenciadas quanto às suas características de validade e fidedignidade. Em seu livro, no capítulo Movimentos Expressivos e Técnicas Afins, encontramos misturadas técnicas da grafologia, da análise da voz e do discurso e a dáctilo-pintura, com técnicas gráficas e viso-motoras, como os testes de Bender (AILEEN, 1992) ou o Psicodiagnóstico Miocinético de Mira y López (1962). 
Para Mira y López (MIRA, 1987) as técnicas expressivas apresentam uma singularidade bem específica. Elas abrangem todas aquelas técnicas onde as expressões da personalidade poderiam ser registradas através de meios audiovisuais, incluindo além das técnicas grafológicas e miocinéticas, fonográficas,         fisiognomônicas, assim como todos os registros feitos com filme e fotografias, além daquelas técnicas que registram reações de natureza fisiológica (cutâneas, respiratórias, circulatórias, metabólicas, eletroencefalográficas). Segundo este autor, estas técnicas permitiriam a exploração da personalidade, mas nelas o sujeito não se projetaria. As pessoas concentram-se em si mesmas; elas se comportam como podem, com suas reações habituais, que independem de uma vontade consciente. São técnicas que não utilizam a linguagem falada, e onde o sujeito não pode intervir no resultados porque este escapa ao seu controle consciente.
Já Anderson e Anderson (1967), em seu livro Técnicas Projetivas do Diagnóstico Psicológico, outro manual clássico sobre testes de personalidade, no capítulo sobre as técnicas expressivas, só inclui os estudos da grafologia, dos movimentos corporais e expressões fisionômicas. Testes como o PMK, o HTP, o MAPS, o teste do Mosaico, e as técnicas que compreendem narrativas e acabamentos serão todos agrupados sob a classificação Outros Métodos Projetivos.
Anastasi (1967) e Anzieu (1978) distinguem os métodos expressivos por sua qualidade de catarse. Anzieu (1978) dá um lugar de destaque às técnicas expressivas, quando atribui ao desenho uma das origens dos métodos projetivos. Porém, também não dedica qualquer capítulo especial para eles.
Com Anastasi (1967) as técnicas expressivas acabam sendo absorvidas como uma das categorias dos testes projetivos. Ela cita entre os principais tipos desta categoria expressiva, as técnicas do desenho e de pintura, as atividades de brinquedo, e o psicodrama. Estes métodos serviriam como recursos diagnósticos e terapêuticos. Através da oportunidade de auto-expressão oferecidas por eles, o sujeito não apenas revelaria suas dificuldades, como também conseguiria se libertar delas.
Vamos deixar para examinar a questão do brinquedo como técnica expressiva em outra oportunidade. Porém, vale a pena lembrar que o brincar como meio terapêutico teve origem no início do século passado, quando surgiram os primeiros passos no domínio da psicanálise infantil. Anna Freud (1927/1971), Melanie Klein (1934/1964), Sophie Morgenstern (1948), Hugh Helmuth (apud Aberastury, 1978), foram nomes que se destacaram como pioneiras nestes atendimentos Apesar das divergências teóricas e metodológicas que podiam ser observadas entre estas primeiras analistas infantis, todas concordavam quanto a uma das dificuldades básicas deste empreendimento. Se a psicanálise acontecia na dimensão significante da fala, o tratamento esbarrava com um obstáculo grave, já que as crianças dificilmente se entregavam completamente à técnica da associação livre. Era necessário substituir a expressão verbal por algum outro tipo de comunicação. Coube a Melanie Klein (1934/1964) equiparar a associação livre através da palavra, com a associação livre lúdica através do brincar e desenhar. Como resultado, Sophie Morgenstern (1948) chegou a publicar um atendimento realizado todo através de desenhos, com uma criança diagnosticada com mutismo psicógeno. Como o menino não falava, ela precisou recorrer à linguagem pictórica, para entender as mensagens comunicadas pela criança. Neste mesmo período, em paralelo, a pedagogia começa a se libertar da rigidez do método clássico, que defendia a reprodução exata dos modelos. Os professores passam a empregar o desenho e os relato livres como meios para desenvolver a personalidade da criança. Esta nova prática permite analisar os significados simbólicos, análogos aos apresentados pelos sonhos ou pelos sintomas neuróticos.
Anzieu (1978) tentou esclarecer a diferença entre expressão e projeção. Em relação ao desenho, ao considerar seu uso enquanto puramente terapêutico ou catártico, lembra que com este objetivo, o desenho não se configura como um teste. Isto porque um teste vai sempre supor uma situação padronizada, acompanhada por uma intenção de avaliação. Como técnicas expressivas que podem expressar a personalidade, o desenho livre, o relato livre e o jogo dramático improvisado, bastante utilizados em procedimentos psicoterapêuticos. Para melhor esclarecer seu ponto de vista, ele acaba recorrendo a uma distinção feita anteriormente por Bellak e Symonds, que achamos interessante reproduzir aqui. Para estes autores existiriam três tipos de testes:
1] Técnicas expressivas - onde o sujeito fica inteiramente livre, não apenas em relação às instruções como também em relação ao material proposto.  Porém, ao adotar esta posição, algumas técnicas expressivas ficam sem localização, já que para algumas técnicas expressivas existem regras objetivas. Em relação aos desenhos do tipo HTP, Desenho do Animal, Desenho da Escola, certos critérios são padronizados: as instruções são as mesmas, a folha ofício é padrão, assim como o lápis número dois, configurando um mínimo de objetividade no material. É preciso lembrar que adaptação, expressão e projeção  estão sempre presentes quando as técnicas expressivas se referem aos desenhos. Em termos do comportamento adaptativo, vai ser preciso considerar se frente à solicitação da tarefa o sujeito reagiu de forma adequada, além de verificar a adequação aos padrões de idade, sexo, grupo cultural, etc. Em relação ao comportamento puramente expressivo, é preciso analisar o estilo particular que se prende à produção do sujeito. Finalmente, em termos projetivos, vai ser necessário verificar os conteúdos simbólicos atribuídos aos desenhos. Estas abordagens são complementares, e precisam ser analisadas com cuidado.
2] Testes Projetivos - onde as respostas são livres, porém o material é definido e padronizado. A definição aqui não se aplica ao conteúdo, e sim ao material que é utilizado. O conteúdo deve ser vago, ambíguo e pouco estruturado. Quanto mais indefinido for o conteúdo de uma imagem ou de uma mancha, mais certeza pode-se ter quanto à qualidade projetiva do material obtido. Para tornar mais claro esta definição relacionada a uma indefinição, podemos pensar no Rorschach, onde o material utilizado é bem definido: são pranchas com as mesmas manchas, põem onde as próprias manchas são bastante indefinidas. Outro exemplo pode ser visto no Teste de Apercepção Tridimensional de Doris Twitchell Allen (apud (BELL, 1978), uma espécie de Rorschach em terceira dimensão, e que se constitui de formas geométricas vagas e pouco estruturadas, com as quais o sujeito deve construir uma situação e uma estória. Anzieu (1978) vai subdividir os testes projetivos em temáticos e estruturais. Entretanto, vale a pena lembrar que os desenhos também poderiam ser posicionados dentro desta categoria, já que oferecem uma excelente oportunidade para a projeção de sentimentos sobre os quais o sujeito não tem um conhecimento direto, e “não quer ou não pode revelar, isto é, aspectos mais profundos e inconscientes; isso porque, sendo um meio menos usual de comunicação do que a linguagem, tem um conteúdo simbólico menos reconhecido” (VAN KOLCK, 1981, p.2).
3] Testes Psicométricos - onde só existe uma resposta correta, e onde o material requer uma precisão rigorosa.
Finalizando, as técnicas expressivas oferecem inúmeras variações. Enquanto técnicas gráficas, os desenhos podem ser organizados de acordo com a maior ou menor liberdade dos temas propostos. Baseando-nos nesta exposição que fizemos, vamos sugerir uma fusão dos princípios de organização de alguns autores. Sugerimos o agrupamento destas técnicas gráficas em quatro categorias, obedecendo ao princípio de liberdade que se prendem aos temas e tarefas.
1] Tarefas altamente estruturadas, e que vão ser avaliadas de acordo com o grau de adaptação maior ou menor em relação ao modelo proposto. Referem-se aos testes em que se propõe que o sujeito procure reproduzir algumas figuras. Nesta categoria estariam incluídos os Testes de Bender (CLAWSON, 1989), as Figuras Complexas de Rey (1942/1999), o próprio PMK de Mira y Lopéz (1962/1987) ou o teste Palográfico de Minicucci (1991), ou o teste de Vetter (GAYRAL, 1977) construído em 1939, e que consiste na cópia de figuras geométricas elementares (quadrados, triângulos, linhas ordenadas em forma de escada, ângulos retos, etc.)
2] Tarefas com estruturação intermediária, onde é pedido que o sujeito complemente alguns sinais iniciais (que podem ser pontos, linhas ou curvas). Nessa categoria inclui-se o teste de Wartegg, ou mesmo a técnica do Rabisco de Winnicott (1984). Tendo em vista a preocupação de Winnicott (1984) que não gostaria de ver sua técnica transformada em um método projetivo estruturado e com regras bem estabelecidas, é importante lembrar o quanto ele enfatizava a necessidade de flexibilidade. Nesta técnica, a liberdade de escolha está sempre em primeiro lugar, sendo a criança livre para escolher conversar, cantar, brincar ou desenhar (MAZZOLINI, 2007). Gayral (1977) fala de um outro técnica intermediária, construída por Horn e Hellersberg, e que apresenta 12 quadros com uma estimulação pictórica rica, exigindo que criação de desenhos complexos.
3] O terceiro grupo envolve o desenho de temas determinados. E aqui é possível localizar as inúmeras técnicas gráficas, como o Teste da Figura Humana (MACHOVER, l974), o Teste da Árvore (KOCH, 1949/1962); o Teste HTP (BUCK, 2003) que pede o desenho de uma Casa-Árvore-Pessoa, o Desenho da Família de Corman (1969), o Desenho do Interior do Corpo, de Desenho do Interior do Corpo (TAIT & ASCHER, 1955), o Desenho do Animal de Levy & Levy (1969), o teste da Mandala de Dias (1996), o Desenho do Professor de Klepsch (1984), o teste de Fay (GAYRAL, 1977), onde é pedido o desenho de uma mulher passeando na rua, num dia de chuva. São inúmeras as derivações destas técnicas gráficas.
4] Por último, algumas técnicas se diferenciam porque propõe ao sujeito um tema indeterminado, tal como os Desenhos Livres, ou o Finger-Paint. Aqui se localizam melhor o Teste das Garatujas na versão de Meurisse (GAYRAL, 1977), ou tal como foi idealizado por Corman (1971). “Estes desenhos livres e atemáticos oferecem uma ampla margem de liberdade para a criação livre, utilizando como estímulo elementos que têm mais de um significado”. (GAYRAL, 1977: 72-73). Sem a intermediação de qualquer indicação, esta produção espontânea pode expressar vivencias e conteúdos emocionais bastante reveladoras.

Conclusão
Independente de qual seja a classificação que se adote, o fato é que as técnicas expressivas possibilitam o acesso a sentimentos, idéias e afetos através da linguagem não verbal. Este tipo de comunicação vem sendo estudada cada vez mais por diversas ciências (psicologia, antropologia, etologia), tal a importância das mensagens que são transmitidas pelos gestos, mímicas e movimentos do corpo. “Todo mundo tem um jeito característico de conservar o corpo quando anda, senta ou fica em pé. Isso é tão pessoal quanto a assinatura e, muitas vezes, parece ser uma pista de caráter bastante digna de confiança... A postura de um homem nos fala de seu passado. A própria conformação de seus ombros pode ser indicativa de cargas sofridas, de fúria contida ou de timidez pessoal” (DAVIS, 1971:101). Neste sentido, todos os testes acabam por poder capturar esta expressividade.
Talvez seja melhor acabar concluindo como Anderson e Anderson (1967), para quem a adaptação, a projeção e a expressão, embora definidas separadamente, raramente vão aparecer isoladas. Sempre vai existir uma relação dinâmica entre o comportamento puramente adaptativo, o comportamento expressivo e o comportamento projetivo. Nenhuma técnica deve ser considerada como puramente projetiva, expressiva ou adaptativa. Cada uma delas vai ser resultado de uma combinação, já que cada aspecto do comportamento vai aparecer em graus divergentes. O que acontece é que, algumas técnicas possibilitam mais a projeção, enquanto outras favorecem quase somente a expressão, como lembra Van Kolck (1981). E é exatamente por este motivo que Mira y López (1962) preferia separar os testes expressivos dos projetivos. Porém, se focalizamos apenas as técnicas gráficas, estas vão oferecer um amplo panorama para a avaliação dos aspectos adaptativos, expressivos e projetivos da personalidade.  


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