sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Cultura da Felicidade: a Droga como Combate ao Sofrimento




Vivemos numa sociedade altamente competitiva onde o consumo é incentivado como decorrência de interesses capitalistas que giram em torno de uma produtividade acelerada. O comentário feito por Birman (1997:10) continua valendo até hoje em relação à bebidas alcoólicas: “Existe, assim, interesses imensos e incalculáveis inscritos nos circuitos da produção, da circulação, da distribuição e do consumo das drogas”.  Esse panorama convive com alguns ideais que celebram a felicidade e a evitação da dor. Não estamos aqui fazendo a apologia do sofrimento. No entanto, basta ver como alguns problemas humanos foram patologizados em decorrência dos interesses das indústrias farmacêuticas. Assim, aquilo que antigamente era vivido como uma tristeza ou luto normal diante da perda de uma pessoa querida, hoje é combatido com novos medicamentos antidepressivos, ao estilo do Prozac. Se antigamente uma pessoa era tímida, agora ela sofre de ansiedade caracterizada como “fobia social”. Frente a esse panorama, Basaglia (1980) pensa que desta forma algumas questões humanas importantes são evitadas, reprimidas ou negadas. E, como as necessidades não podem desaparecer sem criar frustrações, elas são substituídas pelo consumo exagerado e pela busca por vezes frenética de felicidade e bem estar, através do recurso às drogas. É preciso lembrar que este consumo tem raízes sociais, sendo sistematicamente reproduzido pela mídia.

Os anúncios de bebidas se multiplicam. Num esquema de feroz competitividade, as diferentes marcas brigam pelo mercado através de verdadeiras obras primas de propaganda. Algumas são tão virulentas, que o Ministério da Saúde se vê compelido a tirá-las do ar. Um exemplo foi a interferência do CONAR (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) proibindo a campanha da cerveja Devassa, feita por Paris Hilton. Outro exemplo recente foi a proibição do samba cantado por Zeca Pagodinho – cantor popular de grande sucesso – em que a letra apela para valores que calam fundo na alma do brasileiro. Ao ritmo de um samba contagiante, escutou-se um novo perfil atribuído ao cidadão trabalhador: “ser guerreiro”, “ser brasileiro” e “ser brahmeiro”. Embutida está a mensagem para as mentes e corações dos adolescentes: “para ser um adulto que saiba enfrentar obstáculos e ser um bom brasileiro você tem que aprender a beber” .

Na esteira do que ocorreu em relação ao tabaco, as novas regras do Ministério da Saúde passaram a exigir a presença de avisos de cautela nos anúncios de bebidas. Entretanto o mantra “beba com moderação” é silencioso, e causa muito pouco impacto se comparado com a capacidade de contaminação e sugestão que a festa provoca nas mentes de quem recebe a mensagem veiculada na propaganda. Principalmente quando o incentivo à festa vem defendido por figuras públicas de alto apelo popular, como Ivete Sangalo, ou mesmo Dunga, técnico da Seleção Brasileira.

Diante desta realidade, é impossível não se preocupar com a questão da prevenção primária. O desenvolvimento de ações que procurem deter o processo de crescimento do uso, e do abuso de drogas (lícitas e ilícitas) entre os adolescentes é de fundamental importância. A escola, segundo pesquisa realizada pela Secretaria Especial de Prevenção do Abuso de Drogas (RJ), é o segundo segmento de maior credibilidade junto aos jovens, sendo o primeiro a família. A ação preventiva pode tornar-se mais eficaz, se existir uma solidariedade de objetivos por parte das pessoas que constituem o meio ambiente no qual está inserida o adolescente. Dentro desta perspectiva, a escola se encontra diante de um grande desafio, pois é preciso ocorrer uma mudança de paradigmas, e focar na “educação para a prevenção” organizando as disciplinas de forma transversal, onde cada matéria tenha cruzamentos com a temática das drogas. O posicionamento de cada professor como um agente da prevenção, parece ser uma das melhores alternativas para o enfrentamento do consumo de drogas entre os adolescentes.

Dentro desta mesma linha de pensamento, a ação conjunta da família aliada à escola com certeza pode potencializar os fatores de proteção dos adolescentes, contra o abuso de substâncias psicotrópicas.  Por isto é que uma das principais metas deste projeto, embora difícil de alcançar, visa trabalhar também com o modelo de modificação das condições de ensino, através de acesso às reuniões de professores. O objetivo é poder colaborar para a implementação de uma transversalidade das disciplinas, onde a prevenção ao consumo de drogas esteja sempre presente. Além disto, outra meta a ser atingida é a organização de uma equipe preventiva composta por pais, professores, funcionários e alunos, que possa continuar funcionando após o projeto migrar para outras escolas.