quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A História de Hermann Rorschach

A História de Hermann Rorschach    



 Hermann Rorschach nasceu na Suíça, em 1884. O destino desde cedo foi levando Rorschach ao trabalho com as manchas de tinta. Entre as influências ambientais, sem dúvida a mais forte veio do pai, que era pintor. Desde cedo Rorschach viveu dentro de um contexto cultural que valorizava a arte do desenho. Assim ele foi desenvolvendo um gosto pela pintura, a ponto de se tornar um excelente desenhista.
 Outra influência levou o jovem Rorschach a viver uma situação que já prenunciava sua futura invenção. No final de seus estudos secundários Rorschach foi admitido numa associação estudantil, a Scaphusia.
 Como em A Sociedade dos Poetas Mortos, nas reuniões da Scaphusia, seus membros desenvolviam diversas atividades; entre outras coisas entregavam-se a um passa-tempo que estava na moda. A brincadeira, chamada de Klecksografia, tinha recebido este nome por causa de um livro de poesias de Justinus Kerner, onde cada um dos poemas era ilustrado por uma mancha de tinta; segundo ele as manchas teriam sido a fonte de inspiração de seus versos. Este método de trabalho se popularizou, virando mania entre os adolescentes. Primeiro formavam-se os borrões, dobrando-se uma folha ao meio, e depois improvisavam-se os versos. Rorschach era um ardoroso adepto deste entretenimento. Este fato, aliado ao seu talento para desenhos, levou seus colegas a darem a ele o apelido de Klex, palavra alemã cuja tradução é Mancha.
 O arquivo da Scaphusia contém vários álbuns com ilustrações feitas pelos estudantes, onde se destacam vários excelentes desenhos de Rorschach mostrando que, além do mais, ele tinha uma caligrafia bastante elegante.

 Rorschach era um homem bonito e possuí uma personalidade cativante. Sobre o período de seus estudos médicos um professor seu chegou a comentar: "Sua vitalidade era extraordinária e superou os estudos médicos sem dificuldade. Era infatigável, aplicado, lia muito, visitava exposições de arte, mostrava grande interesse por todos os problemas humanos e gostava de discutir sobre eles. Era um amigo incondicionalmente digno de confiança, e uma pessoa sumamente honesta e decente".
 A pintura sempre teve uma grande influência na vida de Rorschach. Como tinha muito talento para a pintura, chegou a ter dúvidas sobre que carreira seguir. Acabou optando pela medicina, porém a arte tornou-se seu passatempo favorito. Quem ajudou sua decisão foi o naturalista alemão Ernst Haeckel, a quem Rorschach pediu opinião.

 Realizou seus estudos entre os 20 e os 25 anos, em várias universidades (Neuchâtel, Berlim, Berna, Zurique) , como era costume nesta época. Aos 28 anos defendeu sua tese médica, onde tentava entender a presença e função da percepção de movimento nos sonhos e nas alucinações. Continuava no entanto interessado pelas artes, freqüentando exposições de pintura; sobretudo se interessava pelas reações que as pessoas mostravam diante dos quadros.
 Dedicava-se também ao estudo da literatura russa e dos delírios de caráter religioso vinculados a certas seitas suiça.
 O interesse pela cultura da Rússia talvez tenha se desenvolvido por influência da namorada, uma colega russa com quem veio a se casar mais tarde. Mas seu entusiasmo aumentou quando, durante umas férias na França, conheceu o neurologista russo Constantin Monakov. Com o propósito de conhecer a pátria de sua amada e de Monakov, começou o idioma. E em 1906 fez sua primeira viagem para a Rússia.

 Outra grande influência na vida e obra de Rorschach foi exercida pela psicanálise. Estas novas idéias estavam sendo muito bem recebidas, tanto em Zurich, quanto na Rússia.
 Na Universidade de Zurique, dirigida por Eugenio Bleuler, Rorschach se especializou em psiquiatria. E, durante o tempo em que estudou lá, teve a oportunidade de entrar em contato com as idéias de Freud. Rorschach era um dos alunos mais interessados pelas discussões, que nesta época atraíam médicos de toda a Europa, na medida em que a psicanálise, pela primeira vez, era transmitida dentro do ambiente universitário.
 Em 1909 Rorschach terminou seu curso de Medicina e viajou de novo para a Rússia, para visitar a família de sua noiva. E também lá entrou em contato com outros psiquiatras e psicólogos adeptos das idéias freudianas.

 Ao voltar para a Suíça, Rorschach iniciou sua carreira como psiquiatra, trabalhando em Munsterlingen. Logo ganhou a simpatia dos 400 pacientes da clínica, pois incentivava as atividades sociais dos doentes, organizando festas, representações teatrais e outras atividades de lazer. Em relatório sobre um de seus pacientes, destaca como uma ilustração contida em um diário acabou por desencadear uma série de alucinações. Novamente aqui é possívelantever um vínculo com a futura técnica de interpretação de formas.

 Também sua tese de doutoramento pode ter contribuído para fornecer alguns fundamentos teóricos para o psicodiagnóstico de Rorschach. Em função de sua morte prematura, ele próprio não teve oportunidade de se dedicar mais tarde ao desenvolvimento ou sistematização desta fundamentação. Entretanto, ao escrever Sobre as Alucinações Reflexas e Outras Manifestações Análogas, Rorschach se dedicou a pesquisar como as sesações de uma classe determinada se transformavam em outras, de natureza completamente diferente. Ou seja, como sensações puramente óticas podiam se transformar em cinestésicas, ou as cinestésicas em óticas, as acústicas em cinestésicas, e assim por diante. E no futuro Psicodiagnóstico, vamos ver Rorschach envolvido com as distinções das diferentes respostas de movimento (humano, animal ou de fenômenos naturais). Rorschach não classificava como M uma percepção de movimento, que não se acompanhasse com a devida repercussão vivencial. Ou seja, para ser considerada uma resposta de movimento, a sensação ótica precisava se transformar em uma sensação cinestésica.
 Caso contrário seria apenas uma representação de forma.  Ao receber o título de doutor, em novembro de 1912, Rorschach publica o trabalho Alucinações Reflexas e Simbolismo. Esta publicação é um passo a mais na direção da psicanálise e do seu Psicodiagnóstico.

 Durante sua vida profissional, Rorschach trabalhou em diversos hospitais psiquiátricos: Munsterlingen (1909-1913), Munsingen (1913), Waldau, próximo de Berna (1914-1915). Dos 31 aos 38 anos, trabalhou em Herisau como diretor adjunto (1915-1922).

 Mas foi em 1911 que deu início a um estudo sistemático dos pacientes através das manchas de tinta. Depois de obter as associaçães dos pacientes, ele fazia comparaçãoes com aquelas obtidas através do teste de associação de palavras de Jung.
Talvez sem ter esta intenção, e mesmo que não se desse conta disto,                       Waldau
na verdade Rorschach já estava se dedicando à validação da nova técnica.
Nesta pesquisa de validade, Rorschach aliou o estudo de casos, através de seus cuidadosos relatórios
sobre os pacientes, com os resultados de outro teste (no caso, o teste de Jung).  E se inicialmente a
população usada para validar a técnica se constituía apenas de pacientes psiquiátricos, aos poucos
ela foi sendo ampliada, e acabou abrangendo adultos e adolescentes normais, através da colaboração de amigos.
 Rorschach continuava estudando e aplicando a psicanálise em seus pacientes. Freqüentou durante muitos anos o grupo psicanalítico de Zurique, formado por psiquiatras famosos como Bleuler, Jung, Binswanger, Pfister e Maeder. Chegou a publicar artigos, notas e numerosos informes na Revista de Psicanálise. O grupo acabou se dispersando em função não apenas da primeira guerra mundial, como também pelo desentendimento e afastamento ocorrido entre Jung e Freud. No entanto o grupo chegou a funcionar por quatro anos, de 1909 a 1913.

 Em 1919, quando foi fundada a Sociedade Suíça de Psicanálise, Rorschach foi seu vice-presidente. Nesta ocasião ele já vinha trabalhando com as manchas na avaliação dos pacientes, e apresentou várias comunicações sobre seu método.

 Seu livro, Psicodiagnóstico, foi publicado em 1921. Infelizmente pouco depois, em abril de 1922, Rorschach morreu em Herisau de uma peritonite aguda.
 No entanto, com seu entusiasmo Rorschach já havia conseguido adeptos importantes, como os psicanalistas Oberhölzer e Zulliger, Morgenthaler - seu colega de Waldau -, e G. Roemer e Behn-Eschenburg, colegas de Herisau. A eles devemos a continuidade e desdobramento dos trabalhos com o Rorschach.



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