quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Rorschach, Vida e Obra

RORSCHACH

Trabalho escrito em 1998, para a disciplina de Técnicas Expressivas e Projetivas II, e originalmente publicado na "Página Projetiva", no endereço Web:http://poetas.es.fortunecity.com/hadas/37

H. Ellenberg (1954), um dos biógrafos de Rorschach, destaca uma convergência de influências que prepararam o descobrimento do método das manchas de tinta.
 Rorschach tinha talento e sensibilidade artística. Sendo um assíduo freqüentador de exposições, interessava-se principalmente sobre as diferentes reações das pessoas diante da mesma pintura.
 Em Herisau havia comprado um macaco apenas para observar as reações dos esquizofrênicos diante dos movimentos do animal.
 A partir da influência psicanalítica, a idéia projetiva fazia parte do cenário suíço. Em Zurich, Jung brilhava com seu teste de associação de palavras;
Silberer (1912-13), adepto de um antigo método de adivinhação chamado de lecanomancia, provocava associações inconscientes fazendo seus pacientes fixarem o olhar em um recipiente cheio de água;
Pfister procurava descobrir os complexos de seus pacientes a partir das associações feitas a determinadas palavras pronunciadas ou a rabiscos realizados por eles.

 Além de Freud, Da Vinci também exerceu uma grande influência sobre Rorschach, que ficou muito impressionado com seu método de pintura. Da Vinci costumava se inspirar observando os desenhos que se formavam nos muros cobertos pelas manchas de umidade e limo. Mas o próprio Da Vinci tinha um predecessor, e reconhecia que a autor desta idéia tinha sido Botticelli.
 Uma ocasião Rorschach leu uma passagem de Leonardo, onde o pintor afirmava que costumava ver "formosas paisagens ou cenas nas gretas dos muros, nas rugas da superfície de águas paradas, nas brasas cobertas por uma fina camada de cinza, nas formas das nuvens, ou que ao escutar uma campainha longínqua podia se ouvir qualquer nome ou palavra em que alguém quisesse pensar".(1).  Segundo sua mulher, depois de ter lido este depoimento do pintor Rorschach caiu em profunda meditação.

 A idéia de usar manchas de tinta como teste não pertence a Rorschach.
 Em 1895 Binet e Henri já estavam usando este material como uma prova de imaginação. Diversos outros psicólogos colaboraram para sistematizar tais investigações:
1898-1910: Dearborn, Kierpatrick e Sharp, psicólogos americanos, usaram experimentalmente a primeira série de manchas de tinta;
1910: Whipple, usou outra série de 20 manchas para examinar diferenças individuais; pela primeira vez o tempo de apresentação não é limitado.
1910: Rybakoff, psicólogo russo, publica um atlas com oito manchas para avaliar alguns aspectos da imaginação, (intensidade, precisão, riqueza e realidade das imagens)
1916: Bartlett, psicólogo inglês, começou a trabalhar com manchas coloridas.
 Porém, aparentemente, Rorschach não parece ter entrado em contato com nenhum destes trabalhos anteriores.
 O que é certo, no entanto, é que ele foi influenciado por um outro autor: o poeta Justinus Kerner que, em 1957, publicou Klecksographie, um livro de melancólicos poemas, inspirados em 50 manchas de tinta de formas sinistras. Este livro originou o passatempo do mesmo nome, que se tornou muito frequente entre os adolescentes. Como já foi dito, Rorschach gostava muito deste jogo

(1) Didier Anzieu, Os Métodos Projetivos, p. 13.

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A História de Hermann Rorschach    



 Hermann Rorschach nasceu na Suíça, em 1884. O destino desde cedo foi levando Rorschach ao trabalho com as manchas de tinta. Entre as influências ambientais, sem dúvida a mais forte veio do pai, que era pintor. Desde cedo Rorschach viveu dentro de um contexto cultural que valorizava a arte do desenho. Assim ele foi desenvolvendo um gosto pela pintura, a ponto de se tornar um excelente desenhista.
 Outra influência levou o jovem Rorschach a viver uma situação que já prenunciava sua futura invenção. No final de seus estudos secundários Rorschach foi admitido numa associação estudantil, a Scaphusia.
 Como em A Sociedade dos Poetas Mortos, nas reuniões da Scaphusia, seus membros desenvolviam diversas atividades; entre outras coisas entregavam-se a um passa-tempo que estava na moda. A brincadeira, chamada de Klecksografia, tinha recebido este nome por causa de um livro de poesias de Justinus Kerner, onde cada um dos poemas era ilustrado por uma mancha de tinta; segundo ele as manchas teriam sido a fonte de inspiração de seus versos. Este método de trabalho se popularizou, virando mania entre os adolescentes. Primeiro formavam-se os borrões, dobrando-se uma folha ao meio, e depois improvisavam-se os versos. Rorschach era um ardoroso adepto deste entretenimento. Este fato, aliado ao seu talento para desenhos, levou seus colegas a darem a ele o apelido de Klex, palavra alemã cuja tradução é Mancha.
 O arquivo da Scaphusia contém vários álbuns com ilustrações feitas pelos estudantes, onde se destacam vários excelentes desenhos de Rorschach mostrando que, além do mais, ele tinha uma caligrafia bastante elegante.

 Rorschach era um homem bonito e possuí uma personalidade cativante. Sobre o período de seus estudos médicos um professor seu chegou a comentar: "Sua vitalidade era extraordinária e superou os estudos médicos sem dificuldade. Era infatigável, aplicado, lia muito, visitava exposições de arte, mostrava grande interesse por todos os problemas humanos e gostava de discutir sobre eles. Era um amigo incondicionalmente digno de confiança, e uma pessoa sumamente honesta e decente".
 A pintura sempre teve uma grande influência na vida de Rorschach. Como tinha muito talento para a pintura, chegou a ter dúvidas sobre que carreira seguir. Acabou optando pela medicina, porém a arte tornou-se seu passatempo favorito. Quem ajudou sua decisão foi o naturalista alemão Ernst Haeckel, a quem Rorschach pediu opinião.

 Realizou seus estudos entre os 20 e os 25 anos, em várias universidades (Neuchâtel, Berlim, Berna, Zurique) , como era costume nesta época. Aos 28 anos defendeu sua tese médica, onde tentava entender a presença e função da percepção de movimento nos sonhos e nas alucinações. Continuava no entanto interessado pelas artes, freqüentando exposições de pintura; sobretudo se interessava pelas reações que as pessoas mostravam diante dos quadros.
 Dedicava-se também ao estudo da literatura russa e dos delírios de caráter religioso vinculados a certas seitas suiça.
 O interesse pela cultura da Rússia talvez tenha se desenvolvido por influência da namorada, uma colega russa com quem veio a se casar mais tarde. Mas seu entusiasmo aumentou quando, durante umas férias na França, conheceu o neurologista russo Constantin Monakov. Com o propósito de conhecer a pátria de sua amada e de Monakov, começou o idioma. E em 1906 fez sua primeira viagem para a Rússia.

 Outra grande influência na vida e obra de Rorschach foi exercida pela psicanálise. Estas novas idéias estavam sendo muito bem recebidas, tanto em Zurich, quanto na Rússia.
 Na Universidade de Zurique, dirigida por Eugenio Bleuler, Rorschach se especializou em psiquiatria. E, durante o tempo em que estudou lá, teve a oportunidade de entrar em contato com as idéias de Freud. Rorschach era um dos alunos mais interessados pelas discussões, que nesta época atraíam médicos de toda a Europa, na medida em que a psicanálise, pela primeira vez, era transmitida dentro do ambiente universitário.
 Em 1909 Rorschach terminou seu curso de Medicina e viajou de novo para a Rússia, para visitar a família de sua noiva. E também lá entrou em contato com outros psiquiatras e psicólogos adeptos das idéias freudianas.

 Ao voltar para a Suíça, Rorschach iniciou sua carreira como psiquiatra, trabalhando em Munsterlingen. Logo ganhou a simpatia dos 400 pacientes da clínica, pois incentivava as atividades sociais dos doentes, organizando festas, representações teatrais e outras atividades de lazer. Em relatório sobre um de seus pacientes, destaca como uma ilustração contida em um diário acabou por desencadear uma série de alucinações. Novamente aqui é possívelantever um vínculo com a futura técnica de interpretação de formas.

 Também sua tese de doutoramento pode ter contribuído para fornecer alguns fundamentos teóricos para o psicodiagnóstico de Rorschach. Em função de sua morte prematura, ele próprio não teve oportunidade de se dedicar mais tarde ao desenvolvimento ou sistematização desta fundamentação. Entretanto, ao escrever Sobre as Alucinações Reflexas e Outras Manifestações Análogas, Rorschach se dedicou a pesquisar como as sesações de uma classe determinada se transformavam em outras, de natureza completamente diferente. Ou seja, como sensações puramente óticas podiam se transformar em cinestésicas, ou as cinestésicas em óticas, as acústicas em cinestésicas, e assim por diante. E no futuro Psicodiagnóstico, vamos ver Rorschach envolvido com as distinções das diferentes respostas de movimento (humano, animal ou de fenômenos naturais). Rorschach não classificava como M uma percepção de movimento, que não se acompanhasse com a devida repercussão vivencial. Ou seja, para ser considerada uma resposta de movimento, a sensação ótica precisava se transformar em uma sensação cinestésica.
 Caso contrário seria apenas uma representação de forma.  Ao receber o título de doutor, em novembro de 1912, Rorschach publica o trabalho Alucinações Reflexas e Simbolismo. Esta publicação é um passo a mais na direção da psicanálise e do seu Psicodiagnóstico.

 Durante sua vida profissional, Rorschach trabalhou em diversos hospitais psiquiátricos: Munsterlingen (1909-1913), Munsingen (1913), Waldau, próximo de Berna (1914-1915). Dos 31 aos 38 anos, trabalhou em Herisau como diretor adjunto (1915-1922).

 Mas foi em 1911 que deu início a um estudo sistemático dos pacientes através das manchas de tinta. Depois de obter as associaçães dos pacientes, ele fazia comparaçãoes com aquelas obtidas através do teste de associação de palavras de Jung.
Talvez sem ter esta intenção, e mesmo que não se desse conta disto,                       Waldau
na verdade Rorschach já estava se dedicando à validação da nova técnica.
Nesta pesquisa de validade, Rorschach aliou o estudo de casos, através de seus cuidadosos relatórios
sobre os pacientes, com os resultados de outro teste (no caso, o teste de Jung).  E se inicialmente a
população usada para validar a técnica se constituía apenas de pacientes psiquiátricos, aos poucos
ela foi sendo ampliada, e acabou abrangendo adultos e adolescentes normais, através da colaboração de amigos.
 Rorschach continuava estudando e aplicando a psicanálise em seus pacientes. Freqüentou durante muitos anos o grupo psicanalítico de Zurique, formado por psiquiatras famosos como Bleuler, Jung, Binswanger, Pfister e Maeder. Chegou a publicar artigos, notas e numerosos informes na Revista de Psicanálise. O grupo acabou se dispersando em função não apenas da primeira guerra mundial, como também pelo desentendimento e afastamento ocorrido entre Jung e Freud. No entanto o grupo chegou a funcionar por quatro anos, de 1909 a 1913.

 Em 1919, quando foi fundada a Sociedade Suíça de Psicanálise, Rorschach foi seu vice-presidente. Nesta ocasião ele já vinha trabalhando com as manchas na avaliação dos pacientes, e apresentou várias comunicações sobre seu método.

 Seu livro, Psicodiagnóstico, foi publicado em 1921. Infelizmente pouco depois, em abril de 1922, Rorschach morreu em Herisau de uma peritonite aguda.
 No entanto, com seu entusiasmo Rorschach já havia conseguido adeptos importantes, como os psicanalistas Oberhölzer e Zulliger, Morgenthaler - seu colega de Waldau -, e G. Roemer e Behn-Eschenburg, colegas de Herisau. A eles devemos a continuidade e desdobramento dos trabalhos com o Rorschach.
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Surgimento do Psicodiagnóstico    

 Quando entrou para a confraria Scaphusia Rorschach ganhou o apelido de Mancha de Tinta ou Garatuja. O apelido poderia tanto ser uma alusão ao talento de Rorschach como alguém que podia fazer suas "garatujas", quanto à habilidade de seu pai, que era pintor. O fato é que este acontecimento traz a marca do interesse artístico e da futura obra de Rorschach, indicando o quanto ele gostava das "manchas".
 Já psiquiatra voltamos a encontrar Rorschach às voltas com as manchas de tinta, tentando avaliar as diferentes reações de seus pacientes diante delas. Apenas agora ele procede de uma forma mais sistemática, comparando as respostas dos pacientes com aquelas produzidas por pessoas normais, contrapondo as respostas de crianças com as dos adultos. Aos poucos consegue uma boa amostragem em colaboração com Konrad Gehring, professor que aplica o teste em seus alunos. Nesta aplicação escolar a intenção ainda era a investigar a imaginação. Gehring tinha por objetivo diferenciar os alunos mais bem dotados daqueles com menos imaginação.

 Finalmente a influência decisiva para a criação de seu teste, Rorschach recebeu quando leu a tese do polonês Szymon Hens, médico formado em em Zurique, com Bleuler. Estudando a imaginação ele havia examinado o conteúdo das respostas de crianças, de adultos normais e psicóticos. Apesar de não achar diferenças entre os normais e psicóticos, levantava algumas questões que foram decisivas para Rorschach:
Qual seria o significado das diferenças na abordagem das manchas? Por que algumas pessoas interpretavam a mancha toda, e outras se restringiam a algumas partes da mancha?
 Os resultados seriam diferentes caso as manchas fossem coloridas?
 Foi a convergência de todas estas influências que levou Rorschach a transformar o uso das manchas de tinta. Sua originalidade consistiu em passar a usar as manchas de tinta como um teste de personalidade, e não mais apenas como teste de imaginação.
 Além disto, o interesse de Rorschach pelos movimentos, que já tinha se manifestado em sua tese, ao estudar a sensação de movimento no sonho e nas alucinações, acabou permitindo que ele descobrisse uma chave para a nova interpretação: as respostas de movimento permitiram avaliar a capacidade de introversão da pessoa, enquanto que as respostas de cor expressariam sua capacidade de extratensão.

 Rorschach conhecia a tipologia de Jung, que distinguia basicamente dois tipos fundamentais: o introvertido e o extravertido.
 Mas para Rorschach estes conceitos tinham significados diferentes. A introversão criadora e a extratensão reprodutora não eram tipos de constituições. E sim duas funções psíquicas, que coexistiriam em diferentes graus na mesma pessoa.
 O tipo de vivência ou de ressonância íntima indicaria a proporção em que estas duas funções estariam presentes no sujeito.

 Em 1918 Rorschach, que já vinha trabalhando com várias pranchas junto aos seus pacientes de Herisau, seleciona as 15 manchas que considerava serem as melhores no sentido de diferenciar as diferentes patologias. Eram manchas em preto e branco, preto e vermelho, e coloridas. Foi difícil achar uma firma que aceitasse imprimir aquelas manchas. Depois de muito procurar teve que aceitar a impressão de apenas 10 pranchas.

 Durante o tempo em que os originais ficaram com a editora, para continuar seu trabalho Rorschach montou uma série paralela, em colaboração com o psicanalista Behn-Eschenburg, conhecida até hoje como "Teste Be-Ro". E assim ele prosseguiu com as aplicações, enquanto elabora as bases de sua teoria. Termina o livro em 1920, mas ele só vai ser publicado em junho de 1921.

 Quando as pranchas ficam prontas, Rorschach sofre uma decepção porque a impressão tinha alterado muito as manchas originais:
o tamanho das manchas ficou reduzido;
as cores foram modificadas;
as manchas negras, antes homogêneas, estavam "manchadas", cheias de sombras cinzentas de vários matizes.
 Entretanto a decepção logo se transforma em criação. Rorschach não se deixa abater, e logo percebeu que as respostas que levavam em conta esta nova variável - o enfumaçados ou sombreado - podiam enriquecer a interpretação, permitindo uma diferenciação complementar. Desde 1919, quando a Sociedade Suíça de Psicanálise foi fundada, Rorschach teve oportunidade de apresentar várias comunicações sobre seu teste, perante seus colegas. Em uma destas comunicações, em fevereiro de 1922, Rorschach aborda a interpretação das sombras, ao analisar às cegas o protocolo de um paciente de Oberholzer.
 Em seu livro, Psicodiagnóstico, publicado em 1921, Rorschach ensina como usar o método das manchas de tinta para realizar avaliações diagnósticas. Infelizmente, antes de poder revisar e ampliar sua teoria, seu trabalho foi interrompido por sua morte prematura. Em abril de 1922, Rorschach morre em Herisau de uma peritonite aguda, com 38 anos de idade.

 No entanto, com seu entusiasmo e carisma, Rorschach já havia conseguido adeptos importantes como os psicanalistas Oberhölzer e Zulliger, Morgenthaler - colega de Waldau -, além de G. Roemer e Behn-Eschenburg, colegas de Herisau. A eles devemos a continuidade e desdobramento dos trabalhos com o Rorschach.


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Principais Escolas


 Inicialmente a publicação de seu livro foi um fracasso. Porém com a continuidade dos trabalhos pelos psicanalistas e psiquiatras suíços, dez anos depois o teste começou a ser divulgado. Binder acrescentou as respostas de claro-escuro (Clob), em 1932. Beck levou o teste para os Estados Unidos, onde o teste começou a ser divulgado a partir do Journal of projective techniques. Klopfer em 1939 fundou o Instituto Rorschach de Nova York, contribuindo muito para o estudo das respostas de sombreado, formando uma escola americana que ajudou a conquistar outros locais, como alguns países da América Latina. Na França o Rorschach entrou depois da segunda guerra mundial, onde a terminologia de Ombredane e Mme. Canivet foi bastante influenciada pela escola americana. Atualmente a classificação de Klopfer vem sendo substituída pela revisão abrangente feita por Exner, que veio dar uma maior fidedignidade à classificação e à interpretação dos protocolos Rorschach.

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Validade das Técnicas Projetivas    


 Ao mesmo tempo em que o prestígio do Rorschach aumentava entre os psicólogos clínicos, o método sofria críticas devastdoras entre os adeptos do enfoque psicométrico, onde a teoria da medida exigia precisões impossíveis à nova técnica. Normalmente são de três tipos os argumentos contrários à utilização do Rorschach: As predições permitidas pelo seu uso não são superiores àquelas conseguidas com métodos experimentais, que são bem mais precisos e fidedignos. Seu uso não leva em consideração o alto número de estudos e pesquisas com resultados negativos. Seu uso não compensa em termos da relação custo/benefício, onde o tempo dispendido pelo psicólogo não traz uma compreensão compensadora sobre a pessoa que está sendo examinada. Holt (1958, 1970) é um dos defensores do Rorschach, e de princípio argumenta que a predição não é um fim em si mesmo. Lembrando antigos debates sobre a cientificidade das ciências humanas, Holt recorre aos clássicos argumentos de Wildebrand. Holt (1958, 1970) é um dos defensores do Rorschach, e de princípio argumenta que a predição não é um fim em si mesmo. Lembrando antigos debates sobre a cientificidade das ciências humanas, Holt fundamentando-se nos clássicos argumentos de Windelband e Dilthey, volta a afirmar que o mais importante no âmbito da psicologia é o estudo descritivo e compreensivo da personalidade. Tanto Windelband quanto Dilthey, reagindo à uma abordagem associacionista que coloria os laboratórios da psicologia experimental do início do século, contribuíram para a demarcação de métodos diferentes para ciências distintas. Windelbando havia feito uma classificação das ciências, contrapondo as ciências humanas e culturais idiográficas às ciências nomotéticas da natureza; enquanto as últimas se dedicavam à elaboração de um sistema de leis e hipóteses, as primeiras se interessavam por fenômenos individuais e irrepetíveis. Dilthey ampliando esta distinção, acaba por afirmar que a psicologia, euqnato se dedica ao estudo do indivíduo, deve ter como principal objetivo não a mera "descrição" dos fenômenos, no sentido wundtiano do termo, mas a "compreensão" dos mesmos. As leis estudadas pela psicologia experimental não poderiam atingir todo o conteúdo da mente humana e, por outro lado, nao fazia sentido fragmentar a unidade do ser humano. Assim, a psicologia não precisaria dos procedimentos "explicativos", tão necessários às ciências físicas. Na medida em que o homem é uma totalidade, uma unidade e "os fenômenos psicológicos não são percebidos de fora e sim experimentados de dentro", eles "não representam uma série de fenômenos separados e sim uma corrente de processos internos". Segundo Dilthey, o principal objetivo das ciências naturais seria o de "explicar" o que acontece, enquanto que o objetivo da psicologia é o de "compreender". é dele a seguinte afirmação: "Na compreensão partimos do sistema como um todo, o qual se nos apresenta como uma realidade viva, para fazer que o particular nos seja inteligível como tall... A apreensão do todo possibilita e determina a interpetação da parte particular". Na verdade a predição, objetivo nomotético, tem um peso bem menor, nas avaliações diagnósticas do que o objetivo iodiográfico e compreensivo de uma determinada pessoa. Entretanto não podemos nos esquecer que o objetivo é sempre duplo, tendo como resultado prático o entrelaçamento das interpretações quantitativas e qualitativas. Por isso Exner (1966) ressalta que não podemos deixar de lado a constituição de uma base nomotética para a interpetação do Rorschach: "Esta hipótese é errada, porque de fato, uma interpretação responsável do Rorschach, articula tanto os dados nomotéticos, como os idiográficos revelados pelo protocolo do teste." Estas críticas quanto à impossibilidade do Rorschach efetuar boas predições do comportamento acabaram por desafiar sua utilidade como método de avaliação. De 1930 a 1960 quase todas as interpretações vinculadas às categorias dro Rorschach foram delcaradas suspeitas, inválidadas como pouco fidedignas. Determinados determinadas revisões bibliográficos mostravam que o estatuto clínico da técnica não era fundamentado pelas pesquisas, concluindo que o Rorschach não passava de uma "entrevista" mediatizada por um estímulo. Entretanto outras revisões apontavam para o resultado oposto, indicando descobertas positivas. Holt (1970) examinando as principais contradições chama atenção para a seletividade da literatura, uma vez que não havia superposições dos títulos, quando as bibliografias de dois destes artigos foram comparadas. Muitos destes estudos foram realizados em condições de ingenuidade metodológica. Por exemplo, durante a décad de 1950 e 1950 foram realizados vários estudos seguindo-se o método do teste-reteste, ignorando-se a anulação do efeito surpresa pela segunda exposição ao material ambíguo. Algumas destas pesquisas foram bastante favoráveis ao Rorschach, ignorando os perigos da retestagem.. Segundo Exner (1966), "por volta de 1949, Cronbach afirmou que muitas das metodologias estatísticas contemporâneas não tinham utilidade na avaliação de um teste tão complexo quanto o Rorschach. Harris (1960) bem claramente reafirmou este problema, enfatizando que com frequência o teste tem sido avaliado de acordo com padrões psicométricos ortodoxos, mesmo que não tenha sido planejado ou interpretado naquele contexto." Conforme pode se ver em uma análise feita por Wyatt em 1968, uma grande quantidade de pesquisas focalizou seus estudos em torno de traços isolados, trabalhando com pequenos segmentos dos protocolos. Muitas pesquisas foram planejadas para se estudar o envolvimento de comportamentos específicos com determinadas categorias de classificação. Estudou-se a relação das respostas de cor com a afetividade geral, das respostas de movimento com a fantasia, das respostas de sombreado com as tendências deressivas e suicidas, das respostas globais com o nível intelectual, etc. Embora um dos paradigmas da interpretação seja a abordagem contextualizadas de todas as categorias, ou seja uma categoria só ode ser interpretada em relação com o restante protocolo, muitos resultados forma positivos e favoráveis, apontando para a realidade destas vinculações. O significado de um determinado tipo de resposta só ganha sentido caso ele venha a ser confirmado pela configuração das outras variáveis do teste. A presença ou ausência de uma classe específica de resposta não pode determinar seu sentido, a não ser que seja colocada em relação com a presença ou ausência de outras categorias. O mesmo número de respostas de cor, ou o mesmo tipo de vivência pode gerar interpretações diferentes. é preciso lembrar ao estudante novato nas técnicas projetivas, que exigem uma abordagem dinâmica e globalizante da personalidade, que qualquer interpretação exige sempre uma cuidadosa análise ou ponderação de todos os outros elementos do protocolo (qualidade formal e, por vezes estilo das respostas, conteúdo, certas relações dos determinantes, ocorrência de outras categorias como respostas de cor, de movimento ou sombreado, respostas humanas, presença ou ausência de fenômenos especiais). Para usar uma palavra bastante atual, a interpetação vai depender da formatação que o sujeito imprimir em seu protocolo, vai depender da configuração final que se apresentar ao psicólogo. Existem alguns estudos importantes neste aspecto. Como o de Weiner (1966), que usa o Rorschach no diagnóstico diferencial da esquizofrenia. Tanto individualmente como em complemento a outros testes o Rorschach oferece um grande auxílio na diferenciação deste transtorno. Desde que usado configuracionalmente, o Rorschach pode auxiliar a avaliar fatores como agressividade, ansiedade, homossexualidade, imagem corporal, tendências suicidas, neuroses e transtornos mais graves. São estes estudos que acabam por fortalecer a validade do método, através de correlações significativas entre os padrões ou características do comportamento e a configuração ou padrão das categorias Rorschach. As discussões sobre o Rorschach e que dizem respeito à sua validação ou aos erros metodológicos acabam se agravando por uma outra questão mais grave, e que diz respeito à multiplicidade de escolas. São tantos sistemas e tantas variações relacionadas com as nuances da classificação e da interpretação, que torna-se possível afirmar que eixiste não um Rorschach, mas Rorschachs. São poucas as coisas que não apresentam divergências. E só existe uma única questão sobre a qual todos os autores concordam, e isto se relaciona ao estímulo da técnica. Qualquer que seja o sistema, usa-se sempre o mesmo conjunto das 10 pranchas fabricadas por Hans Huber, na Suíça. Pranchas à parte, tudo o mais pode ganhar características diferentes conforme o continente, o paíse, e, por vzes, a região ou estado. Até as folhas de localização ganharam acréscimos de levantamentos quantitativos, também diferentes, na medida em que obedecem a seus sistemas originais.

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Janette S. Caputo, The Rorschach as a Neuropsychological Instrument: Historical Precedents and Future Use. HTML version of a paper read at the 16th IRA Congress, Amsterdam July 19-24, 1999.

Helge Malmgren, Moving towards the other. The relevance of Hermann Rorschach's method for the philosophy of perception. HTML version of a poster presented at the "Tucson III" conference, April 27 - May 3, 1998.

Helge Malmgren, A longitudinal pilot study of the Rorschach as a neuropsychological instrument. HTML version of a paper first published in Research into Rorschach and Projective Methods, ed. A.M. Carlsson et al (Swedish Rorschach Society, Stockholm 1997). Reproduced with permission from the publisher.

Helge Malmgren, Rorschach's Idea of a "Movement" Response in the Light of Recent Philosophy and Psychology of Perception. A pdf version of the main text of a paper which appeared in Rorschachiana. Yearbook of the International Rorschach Society, volume 24 (ed. A. Andronikof-Sanglade. Hogrefe & Huber Publishers, 2000. ISBN 0-88937-226-8), pp. 1-27. Reproduced here with kind permission of the publisher.

Helge Malmgren, Colour shock - does it exist, and does it depend on colour? Summary of lecture at the 16th International Congress of Rorschach and Projective Methods (Amsterdam, July 19-24, 1999). Pdf format.

Helge Malmgren, Bodily experience and visual art. Summary of lecture at the conference Infektio: Sykdom i estetisk och idéhistorisk perspektiv (Oslo, January 11-13, 2002).

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