quinta-feira, 9 de julho de 2009

O papel da Anamnese no Processo de Avaliação Psicológica


Elza Rocha Pinto



Nos primeiros contatos feitos com os pais, ou com os responsáveis pela criança ou adolescente, procuramos não apenas levantar dados relativos à queixa ou motivo do encaminhamento, ao desenvolvimento físico e emocional do paciente, como também traçar um perfil da dinâmica familiar. O próprio Mira y Lopez (1966) já afirmava a importância desta dinâmica na determinação da sintomatologia:
Para o grupo das crianças impacientes ou ansiosas, que tendem sempre a superestimar o tempo e portanto têm propensão a interromper suas tarefas antes de acabá-las, devemos verificar em primeiro lugar, se são filhos de pais também impacientes, que levam um ritmo de vida apressado e excitam, sem notar, o sistema nervoso de seus descendentes.[1] 
Para entender melhor como um determinado sintoma surgiu e se desenvolveu, precisamos entrar em contato com a história do paciente e de sua família. O grupo argentino segue um esquema de entrevista semi-dirigida que aborda uma faixa bastante ampla de informações.[2]
Este relato normalmente é feito pelos pais. Porém, algumas vezes, além dos pais torna-se necessário entrevistar mais alguém da família, pela importância que este personagem pode ter na vida emocional da criança. Isto ocorre principalmente entre as famílias de baixa renda onde, na ausência dos pais, as crianças ficam entregues aos cuidados de outras pessoas. Chama-se assim, para as entrevistas iniciais, desde um irmão mais velho, até o avô ou uma tia.
Nesta fase o psicólogo costuma levantar as primeiras hipóteses diagnósticas, que serão mantidas ou modificadas no decorrer das etapas seguintes. Este momento inicial do processo poderá se desdobrar em mais de uma entrevista, conforme a necessidade de complementação das informações. Com base nestas entrevistas preliminares já é possível levantar uma estimativa do número aproximado de sessões que serão necessárias ao processo diagnóstico.


[1]  Emílio Mira y Lopez, Temas Atuais de Psicologia,  p. 13.
[2]  Já que não podemos nos deter para analisar melhor estas fases iniciais da avaliação diagnóstica, recomendamos a leitura de dois capítulos exemplares sobre a anamnese: um deles - publicado por Arminda Aberastury em seu livro Teoría y Técnica en Psicoanálisis de Niños -, apresenta um roteiro de questões que merecem ser investigadas nestas entrevistas preliminares; complementando este levantamento, Maria Luiza O' Campo e Maria E. Arzeno, no livro O Processo Psicodiagnóstico e as Técnicas Projetivas, oferecem um substancial apoio para a compreensão das ansiedades, das defesas, e dos movimentos transferenciais e contra-transferenciais que podem surgir no decorrer destas primeiras entrevistas.
 

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